quarta-feira, 16 de junho de 2010

Uma espécie de diário da Patroa - 08


NIUE – 31.05.2010
Chegámos ontem a Niue já noite cerrada, eram cerca das 19H30 locais, mas uma carta electrónica precisa,  boias bem sinalizadas com bandas reflectoras e o apoio do Tucanon com uma lanterna a indicar-nos onde estava, permitiu que fizéssemos a manobra de amarração sem quaisquer problemas. A mim mete-me sempre um bocado de receio chegar assim a um sítio desconhecido, à noite, sem perceber o que nos rodeia, mas correu tudo bem e passado pouco tempo recebemos a visita do Graham e do Mike do Eowyn que já cá estão há vários dias e, para além de virem beber uma cerveja a bordo, vieram dar-nos informações e contar as suas impressões sobre Nuie. Em resumo: estão encantados! Na 2ª feira pela manhã o Rui foi a terra tratar das questões burocráticas, polícia, alfândega, banco – a moeda é o Dólar da Nova Zelândia - e sei lá que mais e eu fiquei a bordo a dar uma limpeza no barco – em viagem não consigo fazer quase nada! Estamos numa grande baía abrigada dos ventos e a ilha, ao contrário daquelas por onde temos andado, tem enormes arribas que caiem a pique sobre o mar. É por isso que ir a terra de dinghy implica um processo complicado de o fazer subir com um guincho, eléctrico, para um cais mais elevado. De tarde fizémos a nossa 1ª exploração da ilha. Levámos o lixo, há que pagar uma taxa para que seja incinerado, levámos a roupa à lavandaria, a roupa é lavada à mão e seca ao sol, espreitámos os 3 supermercados existentes e a loja duty free de bebidas alcoólicas e fomos até ao Yacht Club onde o WARC está instalado e que tem um café e uma loja de gelados mas que estão esgotados até ao próximo fornecimento. Nuie é um país independente que se colocou, voluntariamente, sob a protecção da Nova Zelândia, tem actualmente pouco mais de 1.000 habitantes, um aeroporto internacional com um voo semanal e um abastecimento por barco mensal. Tem 1 Primeiro Ministro e 3 Ministros e um Parlamento com 20 Deputados. Está numa zona de ciclones e em 2004 foi bastante arrasado por um ciclone da classe 5, estando ainda agora a refazer-se da destruição. A paisagem é linda, parecendo que cada sítio por onde passamos é mais bonito que o anterior, e tem um mar com águas de uma limpidez impressionante (a uma profundidade de 25 metros ainda se consegue ver o fundo do mar). As pessoas são muito simpáticas e todos nos cumprimentam, mesmo quando passam de carro. Ao fim da tarde fomos tomar uma bebida ao Matavai Resort de cuja esplanada, alta sobre o mar, assistimos a um pôr do sol magnífico e depois o WARC foi convidado para um Barbeque no Yacht Club que terminou com um grupo de locais a tocar e a cantar canções americanas dos anos 60. Um verdadeiro encanto!

NIUE – 01.06.2010
A manhã de hoje foi dedicada a pôr em dia os e-mails e as noticias do nosso país. É que há muito não tínhamos Internet com sinal tão razoável e ainda por cima gratuita! As noticias não são boas, mas aqui sentimo-nos tao longe de tudo!! A tarde um tour pela ilha organizado pelo Comodoro, um maduro NeoZelandes reformado que é  o chefe e o grande dinamizador do Yacht Club de Niue – passam por ali 200 veleiros por ano, no máximo. Lá fomos em 2 minibuses bastante velhos e visitámos alguns dos locais famosos da ilha, sobretudo as grutas com as suas estalactites e estalagmites, águas doces cristalinas a juntarem-se ás águas do mar com uma fauna muito curiosa, aldeias com casas dispersas e muitas delas abandonadas e uma costa de corais agreste. A população vive essencialmente da ajuda da Nova Zelandia, embora seja um país independente. Oficialmente são 1200 habitantes, 600 dos quais população activa e destes perto de 500 trabalham nos servicos publicos. As casas sao de madeira, pre-fabricadas, com um ar frágil e pobre e, por norma tem contentores por perto. Há-os por todo o lado!! As galinhas são selvagens e andam a solta. Também nesta ilha de silêncio um dos sons mais frequentes é o canto dos galos. ATM nao há, mas há um Banco onde trocam USDolares, pois fazer um Cash-Advance é possivel com cartões Visa, mas muito mais caro e demorado. O Banco é muito curioso, há filas a toda a hora e é tudo feito manualmente. O cofre forte dá para a sala do publico e está sempre aberto. Num país tão pequeno não há assaltos! Á noite, organizado pela Suzana, houve um jantar no Jenna’s Cafe, ao qual estivemos quase para não ir pois os aguaceiros ao fim do dia pareciam não parar. Mas acabámos por ir e valeu bem a pena. Ás 3as Feiras é servido um Niuean Buffet com comida típica cozinhada muito lentamente num forno feito na terra. Havia sopa de galinha com milho, peixe cru, saladas, galinha, porco e muito mais. A forma de cozinhar e os ingredientes eram estranhos, mas o sabor final muito bom e diferente. O restaurante é gerido por uma familia e esta refeição começou com uma explicação na lingua local feita pelo patriarca e uma oração que parecia nunca mais acabar rezada por um padre, durante a qual o locais, muito respeitosamente, mantinham a cabeca baixa e os olhos fechados. Depois do jantar seguiram-se danças por um grupo de raparigas, da familia e amigas o mais naif que se possa imaginar e um artista com tochas de fogo. No final as pequenas lá fizeram o número de convidar alguns dos assistentes para dançar e eu fui uma delas. Quem havia de dizer!!!

NIUE – 2.06.2010
Dia de preparativos para mais uma partida, agora para o reino do Tonga. Entretanto o PC deu o berro, e segundo a opinião de um técnico local – na loja de internet haviam 3 especialistas! – poderá ser uma questão de humidade, mas depois de ter estado cerca de 3 horas à volta do dito, disse não ter meios para resolver o problema. Assim ficámos sem Internet e principalmente sem acesso aos e-mails e á previsão meteorologica. No entanto o Voyageur sai tambem hoje e vamos juntos para que nos possa fazer chegar, por radio, qualquer informação importante. A viagem para o reino do Tonga deverá durar cerca de 40 horas.

PACIFICO SUL – 3 e 4.06.2010
Chegamos a Vava’u, no Reino do Tonga, pelas 12:30 horas do dia 5 de Junho. A viagem demorou cerca de 40 horas, houve pouco vento pelo que viemos muito tempo a motor. O único animal que vimos durante a viagem foi uma grande cobra de água logo à saída de Niue. Também nesta viagem não soube o que era “mal de mer”. Será que já estou curada ??

TONGA – 5.06.2010
Estamos numa grande baía no interior da ilha de Vava'u – dizem que esta baía é uma das mais bem protegidas do mundo – encostámos ao pontão para que os Oficiais da Emigração, Saude, Quarentena e  Alfândegas viessem a bordo e desembaraçassem o barco. As regras são (?) muito rigorosas e era suposto não deixarem entrar na ilha frutas, legumes, manteiga, ovos ou outras embalagens abertas – ainda deitei borda fora 2 cebolas e 3 batatas antes de aqui chegarmos – mas talvez por virmos integrados no WARC não inspeccionaram nada limitando-se a umas perguntas de rotina e a pedirem 2 cervejas e 1 Coca Cola. Depois houve que acertar os relógios – o Tonga está a leste da IDL (International Date Line) pelo que a diferença horária para a UTC passou de -12 horas em Niue para +13 horas no Tonga. Assim, ao chegarmos, adiantamos o relogio 1 dia, ou seja, chegámos no dia 4 de Junho mas aqui já era 5 de Junho, Sábado. Nas nossas vidas o dia 4 de Junho de 2010 não existiu. Estranho, não é? Ainda por cima o planeamento tinha sido feito para não chegarmos na 6ª Feira pois era feriado e neste país aos fins de semana e feriados está tudo fechado, mas à ultima da hora o feriado foi mudado para 2ª Feira e assim só na 3ª Feira teremos lojas abertas. Depois de autorizados fomos para a zona de fundeio, o Porto de Refugio de Neiafu, onde há boias reservadas para o WARC e, espanto nosso estão aqui fundeados mais de 50 barcos, embora mais tarde venhamos a constatar que muitos deles são charters, pois isto é uma base da Moorings e da Sunsail e muitos outros estão aqui a Invernar. Durante a tarde ainda demos um passeio exploratório por Neiafu a principal cidade da ilha de Vava`u, confirmando que estava tudo fechado mas, ainda pudemos levantar dinheiro em 2 ATM de 2 Bancos – a moeda local e o Tongan pa´anga e vale 0,33 €. Á noite um Barbeque no Vava'u Yacht Club organizado pelo WARC onde houve uma "performance" por 3 crianças (de 8, 9 e 11 anos) dançando musica local – orientadas pelas mamãs !! - e que recebiam dinheiro dos espectadores num cesto colocado à sua frente ou mesmo metido na sua parca roupa. Neste país é um insulto dar gorjeta, mas a oferta em dinheiro e admissível se for como reconhecimento por um serviço especial prestado o que, pelos vistos, seria o caso. No Ocidente chamar-se-ia a isto exploração infantil, mas aqui estamos num outro mundo!!! 

3 comentários:

  1. Por aqui respira-se mundial de futebol !!!!!

    Beijos.
    cristina

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  2. Fantásticos testemunhos a fazer sonhar muita gente!
    Bons ventos!
    Francisco Alba
    Moby Dick
    http://amigosdavela.blogspot.com

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