terça-feira, 22 de junho de 2010

Uma espécie de diário da Patroa - 10

TONGA – 11.06.2010
Ainda continuamos por Neiafu agora à espera que nos seja entregue o novo PC pois o nosso não tem arrranjo. Depois de tantos dias parece que tudo isto já se começa a tornar muito familiar. Conhecemos as lojas, os restaurantes, as pessoas e é de destacar a simpatia, a afabilidade e a vontade de ser prestável por parte de toda a gente, os locais e os estrangeiros que aqui vivem e que, na maioria dos casos, são os donos dos negócios, lojas e restaurantes. O tempo continua bastante bom, não está tanto calor e as noites são razoavelmente frescas. Os barcos do WARC começam a partir, estavam aqui 23, o Asolare (Amel 54 do Peter Turner) vai ficar aqui pelo Pacífico para se juntar a um Rally pelas ilhas do Pacífico e nós também deveremos partir na 3ª feira para Fiji para lá chegarmos antes do fim de semana pois também ali está tudo fechado ao sábado e domingo. No fim de semana iremos dar um passeio por estas ilhas e tomar banho e fazer snorkell o que aqui nesta baía não é recomendável fazer.

TONGA – 12.06.2010
Estamos de novo na ilha de Tapana, o jantar foi no Restaurante La Paella, e tivémos uma noite de flamenco verdadeiramente inacreditável. Esta ilhota tem 3 casas de madeira e uma outra construção com um grande terraço sobre o mar, o restaurante gerido por um casal de espanhóis que aqui está há quase 20 anos. A ementa são tapas feitas num fogão existente do lado de dentro do balcão e paella feita num fogo de lenha na parede do lado e tem música ao vivo sendo os artistas o casal. Mas esta noite havia artistas especiais, a tripulção do Kalliope. A Mª José dança excelentemente Sevilhanas e é muito bem acompanhada pelo marido, o Emílio, e também pelo Pepe e pelo António que também toca guitarra e bandolim. Foi portanto uma noite espanhola à séria em que acabámos todos, ou quase, a dançar no meio da sala. Os restantes clientes eram as tripulações do Eowyn, do Ciao, do Crazy Horse, do Ocean Jasper e a Cissy e o marido donos da loja de tea-shirts em Neiafu, 15 no total. No meio do espectáculo apareceram uma cabra e um cão, o restaurante praticamente não tem paredes, brincando, dando saltos, marradinhas e namorando (é mesmo assim) e confraternizando com os clientes. Uma delícia! No final da noite a conta foi um absurdo, ao nível do melhor restaurante em Portugal, mas aceitam cartões de crédito incluindo American Express. Esta foi sem duvida, uma experiência inesquecível nesta ilhota perdida no reino do Tonga.

TONGA – 13.06.2010
Antes de retornarmos ao Porto de Refúgio de Neiafu demos uma volta de dinghy pelas redondezas. É notável como estas águas são calmas, parece um lago e são transparentes, de uma cor verde muito clara. Ao longe vêem-se mais ilhotas muito pequenas e com muita vegetação, parecem cogumelos dispersos no horizonte. Junto a uma praia que fica ao lado, existem boias e bastantes barcos aí fundeados e uma construção flutuante azul-clara que parece uma casa. É o estúdio, loja aberta ao público e a casa de habitação de uma Americana, pintora, e tem o pomposo nome The Ark Gallery. Ali vende originais e reproduções de pinturas suas. Havia um original com uma mulher a trabalhar, tinha umas cores verdes fortes, de que gostei muito, mas não tinha dinheiro suficiente para o comprar. Fiquei com pena!

TONGA – 14.06.2010
Afinal a partida para Fiji foi adiada para 6ª feira pois, de acordo com as diversas previsões meteorológicas consultadas, poderia haver vento muito forte no percurso. À cautela e porque não temos pressa, ficaremos por aqui mais uns dias. A mesma decisão foi tomada por diversos veleiros, incluindo o Eowyn que continua por perto. Entretanto o computador ainda não está estabilizado e foi marcado mais um encontro com o Thomas. Contou-nos que está no Tonga há 6 anos. Começou  por vir passar 2 semanas de férias – ele e a mulher gostam muito de viajar e a escolha do Tonga foi o resultado de uma busca de um país exótico, diferente e pouco explorado - depois celebrou um contrato para um trabalho de consultoria por 6 meses, seguido da decisão de por aqui ficarem pois haveria alguma coisa que poderiam fazer por aquele país. Ele que era Engenheiro com um Master Degree em Canalizações, dedicou-se aos computadores no Tonga. E por aqui continuam, embora a filha já crescida, 28 anos, se mantenha na Suiça. É um salto de todo o tamanho na vida de uma pessoa! É preciso coragem! À noite fomos jantar ao Giggling Whale. Mais um restaurante explorado por um casal, ele Inglês e Canadiano e ela Grega, que depois de muitas buscas pelo mundo decidiram aqui investir no turismo. O restaurante só está aberto 6 meses, de Junho a Novembro, pois no resto do ano não há turistas e os locais não vão comer a restaurantes. Embora os ciclones sejam raros, houve um em 2000 e outro em Fev deste ano e até a promoção oficial do Tonga promove a estação seca como a melhor altura para visitar o país e a sua aposta esssencialmente virada para a observação das baleias, reduz a época turística para pouco mais de 4 meses, condicionando assim o investimento e o desenvolvimento. Segundo dizem os entendidos este país tem excelentes condições para uma aposta muito mais séria nas actividades náuticas durante todo o ano, mas talvez dessa forma se perdesse o carácter exótico e típico mantendo vivas as tradições e costumes das gentes locais. E é também isso que lhe dá este interesse muito especial.

TONGA – 15.06.2010
Todos os dias pelas 8H30 há uma emissão local em VHF para os barcos que por aqui se encontram. Tem previsão meteorológica, informação sobre o que vai acontecer nesse dia em terra, pedidos urgentes de medicamentos ou de outras urgências, dos barcos que procuram tripulação ou têm peças ou equipamentos para comprar, vender ou trocar e  ainda publicidade feita por cada um dos restaurantes com as suas ementas do dia. Um serviço bem útil! Nova ida ao mercado para comprar verdes para saladas e hoje havia um pouquito mais de quantidade e variedade,. Comprámos uma alface e basílico italiano e a vendedora ofereceu-nos alface de 2 outras variedades e salsa. Não sei se esta era a sua forma de promover os seus produtos, dizia que se gostássemos voltaríamos para comprar mais, ou se era uma forma de dar. O mercado não tem balanças, é tudo vendido à unidade com preços diferentes segundo os tamanhos ou em montinhos de 3 ou 4 peças (cebolas batatas, tomates etc.). Aqui no Tonga quase toda a gente fala Inglês, os mais antigos pelo menos entendem, e assim a comunicação é mais fácil. Entretanto descobrimos ao pé do mercado mais um supermercado, este só para bebidas e congelados. Comprámos camarão (creio que se não fosse aqui não teria gostado do aspecto) e convidámos o Graham e o Mike do Eowyn para virem comer uma arroz de camarão à moda do Tonga. O tempo parece estar a ficar com má cara, muitas nuvens a ameaçar chuva e vento, pelo que não apetece sair daqui para ir fundear noutro qualquer sítio da ilha. Pelo menos aqui estamos bem abrigados e agrrados a uma bóia.

TONGA – 16.06.2010
Hoje assistimos a um funeral aqui em Neiafu. A casa do defunto estava ornamentada com panos roxos, havia uma grande fila de pessoas para entrarem nessa casa, algumas com ramos de flores na mão, todas vestidas de preto com o tal tapete de palha à cintura. Depois os homens concentravam-se num terreno ali ao lado, onde tinha sido construída uma tenda para se abrigarem, e as mulheres sentavam-se no jardim em frente da casa, cantando cânticos religiosas, num coro muito afinado e com vozes muito bonitas, idênticos aos que ouvimos sair das igrejas. O ambiente geral era de grande consternação, mas com um grande silêncio para além dos cânticos. Depois fez-se o funeral, com um carro da polícia à frente, uma banda tocando uma uma música triste e espaçada, o caixão embrulhado no tecido fibroso feito de plantas, tapa, e os acompanhantes, em silêncio, seguindo o caixão. E parece que toda a povoação parou para participar no funeral.

TONGA – 17.06.2010
Os preparativos para o Check-out correram melhor do que o esperado. Afinal conseguimos percorrer as diligências com Imigration, Customs, Capitania, Combustível, Customs de novo durante a manhã e às 14H00 já tínhamos tudo despachado. Em princípio são necessários 2 dias e, quando o movimento é muito, ainda mais. À noite , para despedida, fomos jantar ao Aquarium com o Eowyn. Era noite de ementa mexicana de que nenhum de nós gostava particularmente, mas havia um grupo tocando música local e por ali ficámos. Foi esta a nossa despedida do Reino do Tonga!

PACÍFICO SUL – 18 a 21.06.2010
Depois de metermos água no pontão do Aquarium e de irmos ao Crow’s Nest gastar os últimos Pa’anga em bolos e pão, partimos rumo a Fiji. Foram 3 dias de viagem em que nada de especial aconteceu. Algum vento, o suficiente para pôr o Thor a velejar, algum mar para tornar a viagem menos confortável, apenas isso, alguns aguaceiros e é tudo. De manhã e à noite há o contacto com os barcos que navegam nas proximidades, desta vez era o Kalliope, Eowyn, Ciao e Brown Eyed Girl e assim sabemos a posição relativa de cada um e se está tudo a correr bem. Nesta viagem passámos um marco importante, o meridiano dos 180º, isto é, cruzámos o meio do planeta terra. A nossa longitude passou agora ser Este em vez de Oeste. Também desta vez estive sempre bem disposta,  por precaução tomei o Estrugeron 15mg e colei o penso de Escopalamina na orelha, e assim já tive vontade de ler, de fazer Sudoku, cozinhar e manter-me no poço a observar o mar! Quanto às refeições, o objectivo era consumir o que tivéssemos de fruta, legumes, manteiga, leite, batatas e cebolas pois teríamos que os deitar fora a mando dos Oficiais da Quarantine à chegada a Fiji pois tinham-nos dito que seriam muito rigorosos nesse domínio. Foi necessária alguma criatividade, mas também nenhum de nós é complicado no que às refeições diz respeito. A principal dificuldade é cozinhar num barco aos tombos, mesmo com um fogão basculante em que parece que a qualquer momento as panelas vão saltar para cima de nós. É obra!

FIJI – 21.06.2010
O nosso 1º porto de destino foi Savusavu, na ilha de Vanua Levu, a 2ª maior ilha de Fiji – no total são 332 ilhas - onde chegámos no começo da manhã. Aqui os relógios atrasam-se 1 hora. A entrada na ilha, ou antes as últimas 24 horas foram de vigia permanente, pois há muitas ilhotas e muitos recifes de coral que aconselham um cuidado adicional para além do que dizem as cartas electrónicas e as de papel, o que acrescido de um vento mais forte e alguns aguaceiros incómodos toranaram o fim da viagem bastante cansativa. Mas lá chegámos a uma enseada profunda e, seguindo as instruções da Copra Shed Marina, deveríamos encostar a um pontão, demasiado alto para o Thor, ou tentar encontar uma bóia de amarração disponível. Esta tarefa de amarração não foi fácil, pois havia poucos lugares disponíveis e entrámos 4 barcos quase ao mesmo tempo – apenas o Ciao chegou mais cedo - e da Marina tiveram alguma dificuldade em gerir a situação, era muita coisa ao mesmo tempo! Recebemos a bordo os Oficiais da Saúde e os da Imigration e os da Quarantine, em princípio os mais complicados, foram tratados em terra e foi preencher papeis e mais papeis. Até para nos deslocarmos daqui para outras ilhas é preciso uma autorização especial, papel que também já foi tratado. Ainda démos uma volta pela povoação, parecia muito movimentada, com vários supermercados bem abastecidos, um mercado com muita fruta e legumes, diversas lojas e ATM – a moeda local é o Fijian Dollar - e bastantes restaurantes. Savusavu é a 2ª povoação desta ilha, mas é o local mais visitado por yachts. A povoação estende-se por uma rua comprida junto ao mar, com casas coloridas e um tanto antiquadas, com excepção dos bancos, e muita gente nas ruas. Mas merece uma vista mais detalhada! A má notícia é que o gerador avariou de novo, a solução encontrada para a bomba de água não resultou e, portanto, resolver este problema irá ser de novo a nossa 1ª prioridade.

Sem comentários:

Enviar um comentário