segunda-feira, 28 de junho de 2010

Uma espécie de diário da Patroa - 11

FIJI – 22.06.2010
Savusavu, ou serão as Fiji, parece muito diferente dos locais onde estivémos anteriormente. É a população e a enorme presença de Indianos em resultado de uma grande importação de mão-de-obra feita há 135 anos pelos Ingleses para trabalharem nas plantações. A sua permanência, em comunidades autónomas ou misturados com as comunidades locais, dão à cidade uma cor, um cheiro, uma música, uma vida muito especial. Há muito movimento, muita gente nas ruas, muitas mulheres de saris, as lojas vendem de tudo e tocam música indiana com um som muito alto. Cheira a especiarias e as lojas que vendem as roupas floridas da Polinésia até têm uma máquina de costura, daquelas Singer antigas que parecem uns móveis, para fazer no momento a medida ajustada ao cliente. E é tudo muito barato. As gentes são muito afáveis e quando passam por nós, cumprimentam-nos dizendo Bula. As Fiji são um país independente da administração colonial inglesa desde 1970, mas a situação política não tem sido estável e agora vive-se numa espécie de ditadura militar mas nas ruas vive-se a maior das tranquilidades. Nestes países a corrupção é muito grande, mas aqui começam a ser tomadas algumas medidas para a debelar!! Uma delas é não permitir que os Oficiais dos Customs que fazem o check-in aos barcos recebam dinheiro. Da nossa entrada no país tínhamos que pagar F$35, cerca de €10, e o seu pagamento teve que ser feito no Hospital que ficava já depois da saída de Savusavu e para o que tivémos que andar mais de 40 minutos a pé pela estrada. Claro que o regresso foi feito de taxi! O hospital era bastante pequeno, com um ar muito simples, mas estava rodeado de anexos de madeira com um ar muito decadente. Mas o atendimento para este pagamento foi muito eficiente e simpático, feito num destes anexos, muito pequeno, com 3 secretárias e cheio de papéis, onde não cabiam mais de 3 clientes ao mesmo tempo. A Copra Shed Marina embora não tenha pontões mas apenas bóias de amarração tem, em terra, umas instalações novas, com muito bom aspecto, com lojas, 2 bares – um onde só servem bebidas e outro onde só servem comida – e um ambiente muito simpático de confraternização entre as tripulações dos barcos que aqui se encontram e onde se contam as histórias de cada um. A maioria dos barcos são neozelandeses, estão a 9 dias de distância, mas também há um casal de holandeses que saíu do seu país há 8 anos e talvez dentro de 2 ou 3 anos chegue ao Mediterrâneo e que durante este tempo apenas uma vez foi a casa!! À noite fomos jantar com o Graham e o Mike ao melhor restaurante da terra, Surf and Turf. Comemos muito bem - lagosta e bifes - eu comi caril de marisco que estava excelente, cervejas, sobremesas e cafés – e no final pagámos pouco mais de €15 por pessoa. Havemos de voltar!!! Quanto ao gerador, claro que também não encontrámos aqui nenhuma bomba à venda. Assim, houve que improvisar: um bocado de cola 123 e uns arames a segurarem-na, tipo rolha da garrafa de champanhe e ficou a trabalhar direitinho. Será que consegue durar até à Austrália?

FIJI – 23.06.2010
O check-out de Savusavu tem que ser tratado com 24 horas de antecedência e, portanto foi a 1ª tarefa do dia. Nos customs estivémos mais de 1hora e meia pois é preciso explicar direitinho todo o percurso que vamos fazer nas Fiji, ilhas e aldeias a visitar, não obstante já termos em nosso poder a autorização para este percurso. É tudo muito lento e a burocracia é imensa – já temos cerca de 30 papeis preenchidos e carimbados. Depois compras no mercado e no supermercado. O mercado é bem abastecido e a fruta e os legumes têm muito bom aspecto. E também tem muitas especiarias e Kava, em molhos ou já em pó. Para a tarde contratámos um taxi para dar uma volta pela ilha e o taxista, um indiano escolheu mostrar-nos a Península de Tunuloa. Depois de 20Km de uma estrada alcatroada a que pomposamente chamam Hibiscos Highway, entramos numas estradas de terra batida e depois em verdadeiras picadas. Passámos por aquilo que o taxista chamava aldeias fijianas, um aglomerado de casas assentes sobre estacas, com um ar muito pobre, em princípio pertencentes à mesma família, outras casas com muito bom aspecto, casas de férias de estrangeiros a que o taxista chamava Overseas Gang e Resorts Turísticos. A vegetação é, nesta ilha, menos frondosa. Vimos muitas plantações de coqueiros, a principal produção do país, e à beira da estrada vêem-se sacos cheios de cocos à espera de serem recolhidos para serem levados para a fábrica onde são moídos e extaído o óleo de coco. Quem apanha os cocos do chão ganha F$5 por cada saco, menos de €1,5. Para terminar, fomos a um Resort no cimo de uma colina, mesmo na ponta da península, que tinha uma falda caindo a pique sobre o mar, o que permitia uma vista assombrosa sobre uma grande baía. Aquela quietude, a imensidão do que se conseguia atingir com a vista e a beleza de tudo aquilo eram esmagadores. No regresso o nosso taxista abrandava, apitava e saudava todas as pessoas que via no percurso e que ainda durou cerca de 3 horas. O jantar foi de novo no Surf and Turf outra vez lagosta e bifes mas estava excelente!

FIJI – 24.06.2010
Tínhamos combinado com o Eowyn largar de Savusavu manhã cedo. Mas estivémos à espera da abertura da loja da Internet para reclamar a devolução de 5 horas que não tínhamos podido usar por o server ter estado em baixo. A hora da abertura deveria ser às 8H00, mas como é “Fiji time!” como aqui se diz, só abriu depois das 8H30. O destino era a ilha de Makogai onde chegámos cerca das 17H00. Esta ilha é pequena, em forma de cemicírculo, e tem nas suas pontas duas outras ilhotas, uma delas já está pegada à principal por uma barreira de corais, formando uma grande baía bem abrigada. Quando ali chegámos estavam 7 barcos fundeados. Depois do aperitivo a bordo do Eiwyn - queriam partilhar connosco uma garrafa de Porto comprada em Savusavu que afinal era produzido na Austrália - o jantar foi a bordo do Thor e às 20H estávamos prontos para ir para a cama. Vida difícil!!!

FIJI – 25.06.2010
Durante toda a noite e grande parte da  manhã choveu intensamente. Numa aberta fomos de dinghy até à ilha principal, em direcção a uma praia junto às casas que os nossos Guias de Viagem diziam ser de um Centro de Pesquisa Agrícola. Tinhamos à nossa espera o Guarda que nos perguntou de imediato pelo “sevusevu”, o presente de kava que era suposto ser-lhe oferecido em troca da sua permissão de visitarmos a ilha. Felizmente tinham-nos prevenido em Savusavu, e os Guias de Viagem também o dizem, para compramos alguns ramos de raízes de Kava no mercado local pois poderiam ser necessários nomeadamente nas ilhas mais remotas. Assim, entregue o ramo seguiu-se a cerimónia da sua aceitação. O Guarda sentou-se no chão, colocou o ramos de Kava à sua frente e mandou-nos sentar também. Depois fez uma reza na sua língua onde apenas percebemos as palavras Portugal e England que aparentemente se destina a aceitar o presente e desejar-nos saúde e sorte. Toda esta cerimónia teve um ar muito sério! Depois começou a visita guiada e as suas explicações. Aquela ilha é agora pertença do Ministério das Pescas e é aí desenvolvida a criação de bivalves, durante um ano, para depois serem lançados ao mar. Os diversos tanques de pedra existentes, mais de 12, tinham um ar bastante abandonado e apenas 1 estava a ser usado para os bivalves e um outro para o crescimento de 2 tartarugas. E ali estava um funcionário público a tomar conta daquela exploração! Este Guarda vive ali com a mulher há 15 anos e agora já tem os 3 filhos a estudar em Suva. Têm ali a sua casa, vão de 15 em 15 dias a uma ilha próxima fazer o seu abastecimento e a sua principal fonte de alimentação são uns porcos selvagens que tem que caçar. Anteriormente, até 1969, esta ilha tinha sido uma colónia de leprosos. A população chegou aos 5.000 habitantes e tinha casas, hospital, um cinema e um cemitério. Todos os destroços, apenas restam os alicerces de cimento das diversas construções, estão agora envoltos pela floresta tropical que foi crescendo. Esta visita foi uma experiência única!!! Mas chegámos ao barco começou de novo a chover mas levantámos ferro e rumámos a uma nova ilha, Naigani, que fica a cerca de 15 milhas de distância. Fundeámos junto a uma pequena praia – todas estas praias são uma pequena nesga de areia pois a floresta tropical avança até ao mar – numa zona bem abrigada onde estávamos só nós e o Eowyn.

FIJI – 26.06.2010
Levantamos ferro cedo – como nos deitamos muito cedo, também acordamos ainda antes do Sol nascer - e partimos rumo a Nananu-i-ra, uma ilha já quase pegada a Viti Levu, a principal ilha de Fiji. A viagem tem que ser muito cuidadosa, pois navegamos no meio de barreiras de corais e a sinalização é  muito deficiente, mesmo a indicada nas cartas nem sempre lá está colocada. Estamos numa zona mal carteada onde há recifes que não estão indicados nas cartas e o Eowyn acabou por bater num deles, mas aparentemente sem danos importantes. A baía onde ancorámos é bastante abrigada e continuamos só nós e o Eowyn. A paisagem é muito bonita e as montanhas à nossa frente são redondas e a floresta tropical foi substituída por pasto para gado, pois nesta ilha vivem essencialmente descendentes de europeus criadores de gado.

FIJI – 27.06.2010
Choveu toda a noite, mas durante o dia as nuvens foram desaparecendo. Levantamos ferro cedo pois queremos chegar a Lautoka ou a uma das Marinas existentes nas proximidades ainda de dia e são mais de 50 milhas. A viagem pareceu mais uma gincana, circundando as barreiras de corais e o Rui marcou mais de 16 waypoints para este percurso. Mas navegámos sempre com costa à vista e sempre com profundidades na ordem dos 16 metros. Estamos a rodear a ilha de Viti Levu pelo norte e oeste e a paisagem é muito bonita, montanhas cheias de verde, já não a floresta tropical, bancos de corais que se vêem à superfície e ilhas de areia que aparecem do nada com 2 ou 3 coqueiros altivos. Ao fim do dia chegámos à Marina Vuda Point que ainda tinha um lugar para nós, muito apertadinho entre dois outros barcos. Ao mesmo tempo chegou o Eowyn e também o Neoluna, um catamaran com um casal de franceses que vive em Singapura e que estão a fazer a volta ao mundo com os 2 filhos, de 8 e 11 anos. Finalmente estamos ligados a terra, isto é, a um estrado de madeira, mas temos corrente de 220V e água e já não precisamos de dinghy para ir a terra, basta um salto para o tal estrado. A última vez que tivémos estas mordomias foi em Papeete, no Taiti, exactamente há 2 meses atrás!

2 comentários:

  1. Amigo Rui

    É com muito gosto, que vou lendo as vossas
    aventuras.A SrªArmadora é uma boa narradora
    e pelos vistos também grande marinheira.

    Um grande abraço

    Zé Mascarenhas

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