domingo, 12 de setembro de 2010

Uma espécie de diário da Patroa - 24

AUSTRÁLIA – 29.08.2010
Mais passeios pela cidade, algumas visitas a lojas náuticas – há sempre alguma coisa para comprar para o barco – e num dos regressos à Marina apanhámos um táxi cujo taxista era timorense, emigrado na Austrália há cerca de 40 anos. Ficou muito contente por saber que eramos portugueses, fartou-se de falar, e entre muitas outras coisas disse-nos que a comunidade timorense em Darwin é muito grande, com mais de 10.000 membros, ou seja mais de 10% da população da cidade, o que é na verdade um numero muito significativo. E fizemos mais um tour, o Jumping Crocodile Cruise, uma viagem ao Rio Adelaide para ver milhares de aves nos terrenos alagadiços junto ao rio convivendo harmoniosamente, pois como cada espécie tem uma alimentação diferente não competem entre si, seguida de uma viagem de barco no meio dos crocodilos, alguns enormes, que davam grandes saltos procurando chegar à comida que lhes era mostrada do barco, assim como também dezenas de águias, que em voos rasantes procuravam essa mesma comida. Um espectáculo impressionante!

AUSTRÁLIA – 30.08.2010
Para começar o dia o Rui foi ao dentista (e lá deixou um malar)  marcação feita pelo WARC, cujo apoio em tudo aquilo de que tenhamos necessidade tem sido sempre excelente. Como estávamos no centro da cidade começámos já a fazer compras para o reabastecimento do barco, pois há coisas muito boas aqui na Austrália que vale a pena stockar, mesmo sendo tudo muito caro, como por exemplo os lacticínios, as bolachas, as normais e as famosas Tim Tam ( as bolachas de chocolate em que se trincam as pontas e se sorve o leite ou o café quente  através delas) vinho, cerveja, já para não falar da carne, mas esta não podemos armazenar pois não temos congelador a bordo. Ao fim da tarde decorreu a habitual festinha para a entrega de prémios relativa à última etapa – o Thor ficou em 2º lugar na sua classe – e fez-se também a despedida de mais um barco que decidiu abandonar o Rally e ficar por estas paragens mais um ano para mais pausadamente as poder visitar, o Ciao, um Sweden 45 com um casal de Eslovenos muito simpáticos, o Schreko e a Olga de quem vamos sentir falta. Estão agora aqui 18 barcos, serão estes a partir para a próxima etapa, tendo ficado para trás e decidido não ir a Bali 2 barcos americanos, Ocean Jasper e Crazy Horse, com receio de represálias na Indonésia contra os americanos. Aqui em Darwin mais um barco se juntou à frota, o Drammer, um Contest 50 com um casal holandês que por aqui tem andado calmamente a navegar nos últimos 2 anos e que agora pretende regressar a casa. Esta é a grande questão que se levanta à organização e ao planeamento do WARC, será que este andamento não é rápido demais condicionando o conhecimento mais detalhado destas paragens tão distantes onde dificilmente voltaremos, mas é com certeza um compromisso e não poderá ser doutra maneira se se quiser fazer a travessia dos 2 oceoanos, Pacífico e Índico, na mesma estação. Para quem pretender um passeio mais pausado há esta alternativa de ficar por aqui durante um ano ou dois e depois retomar o caminho de regresso a casa numa outra edição do WARC, opção que alguns barcos têm tomado, mas que não creio que se ajuste ao nosso projecto de Volta ao Mundo.

AUSTRÁLIA – 31.08.2010
Dia dos preparativos de partida para a 14ª etapa que são dias sempre de grande azáfama. De manhã saída da Marina para ir atestar de combustível o que com esta questão das comportas nos tomou quase toda a manhã. Depois mais lavagens de roupa e depois fomos ao centro da cidade, onde se encontram os supermercados, fazer mais compras para a viagem, sobretudo bebidas, frutas e legumes. Seguiu-se o Skippers Briefing e depois foi ainda o homem das velas que veio entregar a genoa reparada – foi substituída a banda de UV gasta pelo uso – e houve que fazer a sua montagem. Nestes trabalhos tivemos a simpática ajuda do Stephen Coi do Skylark que já não estava habituado a fazer força “braçal” nos guinchos pois no seu Amel 54 é tudo eléctrico. Um luxo que nós não temos! À noite o jantar foi no Christo’s  Fish Café, aliás como tem acontecido todos os dias, e onde se encontra a jantar praticamente toda a frota pois este é o único restaurante aberto ao jantar e que propicia uns momentos de confraternização entre toda a gente. A temperatura continua muito elevada durante o dia, Max 34 e Min 23, com muita humidade e muitos mosquitos, mas curiosamente no supermercado havia um folheto promocional com as sugestões de compras para os últimos dias de Inverno!


OCEANO ÍNDICO – 1.09.2010 a 8.09.2010
Dia 1 de Set foi o dia da partida para a 14ª etapa, Darwin – Bali, cerca de 950 milhas com previsão de 7 dias de navegação. Apesar da partida ser só às 12h, por causa das comportas da Marina e das marés, o nosso slot de saída foi às 8h30, e tivemos que ficar tanto tempo à espera que quase adormecemos e atrasámo-nos ligeiramente na saída, nós e mais 2 barcos, coisa sem importância mas que tirou algum brilho à partida. A previsão meteorológica apontava para ventos muito fracos e efectivamente tivemos que usar mais o motor que o desejado. Ainda subimos o Parasailor em 2 dias, o Rui dizia que pelo menos servia para treinar e para tirar umas fotografias,  mas os ventos não eram os adequados para esta vela. No 3º dia pusemos a cana de pesca no mar, apeteceu-nos peixe para o jantar, e em menos de ½ hora apanhámos um atum, pequeno, mas que nos deu para 2 refeições. Até parece simples e a pedido! Uma outra nota digna de registo é o eficiente controlo que a Austrália exerce nas suas águas e durante 3 dias seguidos fomos intrepelados pela patrulha aérea e depois por um patrulha para que confirmássemos os dados do barco, de que porto vínhamos e para onde nos dirigíamos. Em termos de navegação foi sempre calma até ao fim, pouco vento, mar calmo e muito calor. As noites estiveram com uma Lua em Quarto Minguante, quase a desaparecer, mas com o céu muito estrelado e, nos últimos dias, com alguns clarões fruto das diversas trovoadas que víamos ao longe. E assim chegámos a Bali na 4ªfeira, dia 8 de Set,  pela madrugada, mas como não podiamos entrar na Marina de noite, faltou-nos  a carta electrónica desta zona, navegámos as últimas horas já em velocidade reduzida e, no final mesmo parados, aguardando que o sol nascesse e nos iluminasse o caminho até à Marina. Com esta falta de informação ainda nos enganámos na entrada da Marina e fomos pelo porto de pesca dentro, onde havia centenas de barcos de pesca fundeados, todos com um ar muito velho e mal tratados, parecia um imenso monte de sucata, aliás condizentes com a autêntica lixeira que se via no mar à sua volta. Depois lá voltámos para trás  - ainda tocámos no fundo lodoso, sem qualquer consequência e conseguimos encontrar a Marina que também tinha o mesmo ar de lixeira do porto de pesca, onde já se encontravam a maioria da frota entretanto chegada.

BALI – 8.09.2010
Chegámos à Marina de Bali no Porto de Benoa pelas 8h da manhã. Chamar a isto Marina é uma força de expressão, mas na verdade tem uns pontões velhos, com água e electricidade, muito lixo a boiar à volta dos barcos e um restaurante a que chamam Yacht Club onde existem alguns serviços de apoio, chuveiros, um “business centre” onde se compra a internet e se deixa a roupa para lavar, etc. E foi aí no restaurante onde fomos tomar o pequeno almoço que começámos a tomar contacto com as gentes de Bali, sendo a 1ª impressão que se trata de gente muito afável, muito sorridente e respeitosa, que gosta de nos tratar pelo nome próprio e de nos cumprimentar apertando a mão. Os empregados são muitos, mas não são muito eficientes. Ainda fui levantar dinheiro a uma ATM não muito longe da Marina e aí tomámos contacto com o dinheiro da Indonésia, o levantamento máximo é de 1.250.000 rupias, em notas de 50.000, ou seja 25 notas todas novinhas e com numeração sequencial, que valem pouco mais de 100 Euros. O pequeno almoço desse dia que incluiu ovos mexidos, tostas e 2 sumos de ananás custou pouco mais de 6€ o que nos dá a ideia do nível dos preços. O resto da manhã foi passada a tratar do processo de check-in, não obstante o excelente trabalho de planeamento e organização  montados  pelo WARC, com um táxi a servir de shuttle entre os serviços de Immigration, Master Harbour, Quarentine, Customs e Immigration de novo, todos em locais diferentes, com muita burocracia, lentidão e muito pouca eficiência. Mesmo assim conseguimos fazer tudo em pouco mais de 2  horas. Um feito!  Há um barco novo que se junta aqui à frota, o Tzigane, um Sun Odissey 54 DS com um casal inglês e que por ter chegado mais cedo teve que fazer este périplo do check-in sem o apoio do WARC e demorou mais de 4h e muitas mais rupias. À noite resolvemos ir jantar fora, pensámos ir até Kuta, uma cidade turística que não distava muito de onde nos encontrávamos e onde há 3 anos se deu um atentado à bomba, mas o taxista que nos apareceu, o mesmo que tinha estado a dar-nos apoio durante a manhã, depois de lhe pedirmos uma sugestão de um bom restaurante, levou-nos para outras paragens. A viagem de táxi demorou cerca de 30 minutos, mas foi uma viagem louca a toda a velocidade por meio de estradas pejadas de trânsito, de automóveis e motocicletas, toda a gente conduzindo muito depressa e com muito barulho, ultrapassando pela esquerda e pela direita, uma verdadeira loucura. Mas lá chegámos ao local que ele tinha escolhido para nós e que devido ao seu mau inglês não tínhamos percebido o que seria. Acabámos num restaurante numa praia, com as mesas em cima da areia, onde as ondas rebentavam mesmo ali ao lado e onde a especialidade da casa era marisco e peixe grelhados que escolhíamos logo à entrada. Ainda assistimos a um espectáculo de danças de Bali, a um grupo que andava de mesa em mesa cantando, a noite estava excelente e a comida também e até o preço foi muito convidativo (éramos 5 – nós , o Graham, oMike e agora o seu novo tripulante André – e pagámos 26€ por cabeça num jantar com peixe e marisco). O taxista disse que nos esperava à saída e lá estava ele dormindo no táxi, à espera para nos levar de novo à Marina. Um excelente jantar e completamente inesperado!

BALI – 9.09.2010
Tour ao Lago Kintamani e ao Monte Batur onde existe um vulcão activo, cuja última erupção na década de 70 deixou as suas marcas ainda bem vivas em mortes nas aldeias vizinhas e nos terrenos negros, queimados pela lava, onde ainda nada cresce. A partida foi às 8h30m da Marina e durante o dia visitámos uma fabricação de artesanato em prata e a loja onde tais artefactos se vendiam, uma outra de trabalhos em madeira e a respectiva loja comercial, almoçámos num restaurante com vistas para o lago e para o vulcão, visitámos 2 templos hindus, comprámos frutas tropicais que se vendiam à beira da estrada, alguma dela de espécies que eu nunca tinha visto, fizemos uma visita a uma produção de café de Bali, de chocolate e chás e da respectiva venda ao público e no final do dia ainda fizemos uma paragem na cidade de Ubud, uma cidade turística com muito bom aspecto, com lojas, cafés e restaurantes de luxo, um mundo à parte da pobreza e sujidade que tínhamos visto durante o resto do dia. Parece que há 2 mundos nesta ilha, um elegante e luxuoso, o dos resorts e pelo menos desta cidade e o outro do resto da ilha e do comum cidadão. Vimos também plantações de arroz em terraços, uma beleza.  Mas acho que vi muito pouco para poder estar a tirar conclusões! Há no entanto algumas situações que me pareceram muito curiosas e que passo a comentar. Bali é uma das 13.000 ilhas, nalguns sítios chega-se a falar de mais de 17.000 ilhas, da Indonésia, com mais de 3,5 milhões de habitantes e mais de 1,5 milhões de motocicletas, e é maioritariamente Hindu, ao contrário do resto da Indonésia que é maioritariamente Muçulmana. Pelo tipo de construções urbanas, a profusão de altares devidamente enfeitados e bem cuidados e as ofertas aos deuses espalhadas por todo o lado sente-se um ar místico no ar. Nos altares, nos passeios em frente às lojas, dentro das lojas, nos táxis, ou seja em tudo o que é sítio, vêem-se caixinhas feitas de folhas de palmeira com flores e arroz, muito coloridas e bem decoradas, diariamente mudadas, e que são as ofertas aos deuses pedindo a sua protecção e boa sorte. Este catering deve ser um bom negócio! E numa terra de grandes necessidades, estas ofertas aos deuses parecem um contra-senso. Acresce que as caixinhas substituídas são atiradas para o lado, aumentando as lixeiras enormes a céu aberto que se vêem por todo o lado. À beira das estradas as lojas de porta aberta são contínuas, parece que toda a gente tem alguma coisa para vender, mas não creio que haja tanta gente para comprar, e a sujidade e o lixo são imensos. Da paisagem fazem também parte as multidões de motocicletas, ou circulando a grande velocidade ou estacionadas em tudo o que é sítio. E se mais não digo é porque mais não vi.

BALI – 10.09.2010


Dia de mudança de tripulação no Thor. Eu regresso a Lisboa no fim do dia, voo Denpasar – Singapura – Schipol (Amesterdão) – Lisboa, com partida às 20h40m, esperando-me mais de 19 horas de voo e algumas 10 horas mais de aeroportos e o João Sá da Bandeira que deveria chegar a Denpasen às 19h30, pelo que não nos chegámos a ver. O dia foi pois passado a arrumar as bagagens e a preparar o Thor para o novo tripulante. O tempo manteve-se durante todo o dia muito quente e o grau de humidade no ar, sobretudo dentro do Thor, tornam a vida quase insuportável. Chegou ao fim esta minha aventura de mais de 4 meses, desde a Polinésia Francesa, por todo o Pacífico Sul, Austrália e a Grande Barreira de Corais até Bali. Foram alguns milhares de milhas náuticas de navegação pelos Oceanos Pacífico e Índico, uma vida a bordo desafiante e exigente, vi povos, civilizações e culturas muito diferentes que me impressionaram profundamente, vi ilhas muito belas, conheci 7 novos países e até um continente, com uma fauna terrestre e marinha diferentes, enfim, foi uma experiência única cujas sensações e olhares tenho aqui deixado registados diariamente. Para além das coisas boas e bonitas que vi e vivi, dos mundos diferentes que conheci e que certamente doutra maneira não teria as mesmas oportunidades de contactar, há também que ressaltar o espírito de comunidade que se estabeleceu entre toda a frota, as novas pessoas que conheci, gente muito variada vinda de diferentes países, as novas amizades que estabeleci, ou seja, do ponto de vista pessoal foi também uma experiência profunda e envolvente. Experiência única que terminou ... por agora!

1 comentário:

  1. Encontramos o projeto de vocês buscando informações no google sobre Bali.
    Somos um casal brasileiro rodando o mundo para pesquisar motivação.

    Ficaremos muito felizes em trocar experiências, acabamos de nos tornar seguidores do Blog de vocês !! Parabéns pela viagem !!!

    O endereço do nosso Blog é: www.walkandtalk.com.br , ficaremos muito felizes com a participação de vocês conosco. Estamos nos conectando com muita gente que experimentou também essa grande aventura por vários países.

    Abraços, Luah e Danilo !!! (projeto Walk and Talk)

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