domingo, 25 de julho de 2010

Uma espécie de diário da Patroa - 16

VANUATU – 14.07.2010
Começaram os preparativos para a próxima etapa, Port Vila – Mackay, cerca de 1100 milhas, tempo de duração prevista 8 dias : combustível, aprovisionamentos, previsões meteorológicas, marcação da viagem nas cartas e preparação do barco, incluindo o dinghy. Fiz comida para os próximos 4 dias e os stocks existentes de carne e peixe frescos ou congelados, frutas, legumes, laticínios e sabe-se lá que mais têm que ser consumidos ou serão confiscados pois a Austrália é o país mais rigoroso do mundo no controlo e proibições de entrada de produtos. Já a pensar nestas condicionantes e porque tinha muita carne congelada a bordo (privilégios de quem tem um congelador), o Emílio do Kalliope – agora com 2 novos tripulantes, um casal muito novinho, o Carlos e a Cristina – convidou-nos e ao Graham e Mike do Eowyn para um jantar de ‘barbacoa’ de carne. Levei a sobremesa, o bolo de chocolate da Mafalda, que fez um sucesso e desapareceu num ápice. Já me pediram para repetir.

PACÍFICO SUL – 15.07.2010 a 23.07.2010
A partida de Port Vila foi dada às 12H00 do dia 15 de Julho (5ª feira) e chegámos a Mackay na Austrália às 14H00 locais (1 hora menos que em Vanuatu e 9 horas mais que em Portugal) do dia 23 de Julho (6ª feira). Foram 8 dias e 8 noites de viagem, mais de 1100 milhas, a minha mais longa viagem de sempre. Tivémos dias com pouco vento e bastante sol e com os mais belos nascer e pôr do sol que tenho visto. Tivémos muito vento, nuvens, aguaceiros e muito mar, dias em que andámos muito depressa sempre à vela. Entretanto a temperatura ia descendo e como as previsões meteorológicas antecipavam vento ainda mais forte para os últimos 2 dias, a linha de chegada da prova cronometrada (isto às vezes também é um rally!) foi antecipada para o início da Passagem Hidrográfica, uma espécie de corredor por entre os recifes de corais que nos leva até à costa Australiana. Ao contrário do que estávamos à espera, a viagem a partir daí ainda foi mais dura: vento muito forte, sempre na ordem dos 25/30 nós, correntes desfarováveis de mais de 4 nós, a água do mar que passava por cima do barco e molhava tudo e todos (sobretudo o Rui), uma atenção redobrada pois estávamos a passar por entre os recifes (na edição anterior do WARC, o Peter Turner com um Amel como o Asolare que tem agora, encalhou num recife e afundou o barco), acrescida de alguns problemas que houve que resolver durante a noite, nomedamente na retranca onde se partiu a “peça” que a agarrava. Mas chegámos bem, embora estoirados, muito estoirados. A vida dentro do barco correu, durante toda a viagem, bastante bem. A bordo não há muito para fazer, sobretudo para mim e porque íamos num espírito desportivo (também não havia hipótese para ter outro), para além de ler, fazermos as refeições e as vigias (o Rui tem-me sempre poupado muito), a navegação e descansar. Foi boa ideia ter preparado antecipadamente as refeições quentes e com mais umas sopas que fiz para a noite, sopas quase tão boas como as que a Zita Gonçalves fazia no Cruzeiro de Verão de 2008, comemos sempre muito bem. Quase sempre, pois nas últimas 2 noites fizémos dieta pois nem consegui aquecer a sopa tal era o estado de reboliço dentro do barco. E assim nos despedimos do Pacífico Sul. Agora estamos no mar de Coral, já dentro da Grande Barreira de Recifes e a caminho do Índico.

AUSTRÁLIA – 23.07 2010
Chegámos a Mackay, estado de Queensland, na Austrália. É ao longo deste grande estado no norte da Austrália que se estende a Grande Barreira de Recifes de Corais, considerado o mais extenso, tem mais de 2.000 Km de comprimento, mais bem protegido e menos afectado sistema de recifes do mundo. E chegámos também a um novo mundo! A Marina de Mackay é muito grande e tem óptimas condições. À chegada dirigimo-nos ao pontão da Quarentena de onde só podemos sair depois de devidamente inspeccionados. O WARC tinha tudo muito bem organizado, e isto é Austrália, e os Inspectores entraram logo a bordo, nem deu tempo para dar alguma compostura no interior. Eram 2 e comigo ficou a parte dos víveres. Não chegaram a inspeccionar toda a nossa dispensa espalhada pelos diversos compartimentos existentes na cozinha e no salão e, no final, apenas nos levaram o lixo, uns alhos e uma embalagem, fechada, de presunto e uma outra, aberta, de queijo parmesão. Claro que as cebolas, batatas, ovos, manteiga, maionaise, ketchup, a comida e as frutas e legumes sobrantes já tinham sido deitados fora, pois também teriam sido confiscados. Também inspeccionaram muito cuidadosamente alguns dos presentes que tínhamos comprado, sobretudo cestos de palha à procura de eventuais animais ou  insectos aí existentes. Ao mesmo tempo o outro Inspector ia fazendo um questionário extenso sobre as condições do barco, matéria de que o Rui se ocupou. Ainda os da Quarentena não tinham terminado o seu serviço, já os Inspectores de Customs e de Immigration entravam também a bordo, com mais um rol enorme de perguntas e de validação de documentos. Foram todos muito atenciosos e como nos tinha sido dito, a Inspecção demorou, no total, 1H45M. Terminada esta parte, dirigimo-nos então para o nosso local de amarração na Marina. Esta é certamente uma das melhores Marinas em que estive, não só pelas condições dos pontões, como também pela qualidade dos bares e restaurantes que tem à volta e todos com um excelente aspecto. Isto é verdadeiramente um novo mundo. Gosto deste!

AUSTRÁLIA – 23.07 2010
Dia de limpeza geral do Thor, por dentro e por fora, que nos ocupou toda a manhã. O vento continua forte e está bastante frio. Não estávamos à espera desta temperatura. Basta dizer que o termómetro, no interior do barco, desceu dos 30º para os 20º. De tarde apanhámos uma boleia até à cidade que nos deixou no Caneland Shopping Centre e acabámos por não passar dali. Parecíamos 2 miúdos deslumbrados! Tem tudo, ou quase, coisa que já não víamos há muito. Sociedade de consumo, tipo Americana, mas que sabe muito bem. Num Department Store, Big W, fizémos muitas compras e até comprámos uma ‘barbacoa’ a gaz tipo Kalliope. O Supermercado, Woolsworth, é um verdadeiro assombro, mas como já tínhamos o carrinho das compras cheio, também comprámos um grande com rodas, só amanhã ou depois poderemos ir fazer as compras para o reabastecimento do barco. Para o fim da tarde apareceram umas nuvens muito escuras que acabaram numa noite de chuva intensa, sem graça nenhuma. Prudentemente tínhamos comprado uns camarões para jantar a bordo e chegámos ao Thor mesmo a tempo de fechar o barco e evitar que tudo de novo se molhasse. Entretanto as mulheres do Graham e do Mike chegaram, a mulher do Mike trouxe a bomba que o gerador precisa e que em Inglaterra custou 1/5 do preço que tinha sido pedido na Austrália, passaram pelo Thor para nos convidarem para jantar em terra e acabámos todos por ficar a bordo, a comer os camarões, beber um vinho branco fresquinho e a conversar. Lá fora continuava a chover copiosamente!

1 comentário:

  1. Quando estas aventuras forem passadas para um livro, vamos ter um best-seller. Entretanto vou antecipando a minha aventura...
    Um grande abraço para os dois
    João Sá da Bandeira

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