domingo, 11 de julho de 2010

Uma espécie de diário da Patroa - 14

VANUATU – 07.07.2010
Claro que de manhã fomos fazer o reconhecimento por onde tínhamos andado no dia anterior à noite. O carreiro aberto na floresta levava-nos a uma grande clareira onde se situava a aldeia, e o restaurante era apenas uma das casas da aldeia – no dia anterior apenas existia uma ténue luz no restaurante pelo que parecia ser a única construção existente. As casas rodeavam o terreiro, não eram mais de uma dúzia, e as mulheres e crianças pequenas estavam sentadas do lado de fora, em grupos, a trabalhar. Vimos também uma escola e muitos miúdos a brincarem no recreio. E uma casa pequena, chamada Mercado Comunal, onde se vendiam algumas bananas, cocos e algum artesanato, nomeadamente cestos, e, no tal carreiro, uma banca de madeira debaixo duma árvore onde estava pregado um letreiro, “Road Market”, com 3 cachos de bananas e alguns limões. E ainda vimos uma igreja que, tal como as casas, era construída de folhas de palmeira, nas paredes e cobertura, tendo as casa uma espécie de janela feita com as mesmas folhas de palmeira, mas com um entrelaçado mais largo. Tudo isto tem um ar muito primitivo, mas parece ser conservado com muito amor pelas gentes locais. As pessoas são muito afáveis e têm um riso largo e aberto quando com elas falamos. Já no regresso ao dinghy para ir preparar o tal almoço de dourado, houve 3 miúdos, de 11 anos, que nos pediram para ir ver o nosso barco. Quando lhes dissémos que eramos de Portugal, associaram-nos de imediato ao Cristiano Ronaldo e reconheceram a bandeira de Portugal. É espantoso como nesta terra do fim do mundo, com uma vida tão primitiva, sem electricidade, o futebol abre mundos – uma das palhotas tem satélite e uma televisão e, nesta altura do Mundial de Futebol, até cobra dinheiro aos vizinhos para os deixar ver os jogos. Espertos os miúdos, até diziam que eram apoiantes de Portugal no Mundial. Ao chegarem ao barco espreitaram tudo com muita atenção, mas o que mais os tocou foram as casas-de-banho e o espelho grande que existe na nossa cabine onde se miraram e soltaram algumas gargalhadas. Cada um deles dizia ter 7 ou 8 irmãos. Dei-lhes umas bolachas e retornaram ao seu mundo. Qual será o seu futuro? Pareceram-me demasiado curiosos para ficarem por aqui! À tarde houve um tour a uma aldeia Kustom e ao Monte Yasur. O transporte era feito em carrinhas de caixa aberta onde nos sentávamos, por um caminho de terra batida, aberto na floresta, mas que as chuvas de umas semanas atrás tinham cavado grandes fendas tornando a viagem uma verdadeira aventura. Na aldeia Kastom, onde as cerimónias tradicionais são parte da vida da aldeia, presentearam-nos com um espectáculo de dança desempenhado por homens e crianças usando os trajes tradicionais de todos os dias, namba (um ramo de folhas que apenas cobre o pénis). Depois do espectáculo, uma espécie de dança guerreira, tinham artesanato para vender, sobretudo figuras feitas em madeira mas alertaram-nos que as autoridades Australianas não gostam muito destas coisas. Seguiu-se, já ao anoitecer, a subida ao Monte Yasur para observarmos o vulcão que os panfletos locais dizem ser o vulcão vivo mais acessível do mundo. E o espectáculo era, na verdade, impressionante: tanto o roncar vindo das profundezas, como os fumos negros e a lava vermelha expelidos. Mais um espectáculo daqueles que não se esquecem na vida!

VANUATU – 08.07.2010
Este foi um dia muito especial! Ao meio-dia, cerimónia da troca de presentes entre as gentes da aldeia de Port Resolution e a frota de barcos do WARC. A combinação era que nos concentraríamos na praia dos dinghys e só poderíamos subir para a aldeia depois de ouvir o sinal dado pelo chefe da aldeia a dizer que estavam prontos para nos receber. Após ouvirmos o sinal subimos à aldeia e estava aí concentrada toda a população, eram mais de 100 pessoas e muitas crianças, para nos oferecerem um espectáculo de danças e cantares. Em seguida seguimos todos em procissão atrás de um grupo que tocava música até um terreno em frente ao Yacht Club que tinha sido demarcado e enfeitado com troncos de árvores e cocos para a cerimónia da troca de presentes. À entrada, a cada um de nós – eramos mais de 50 - foi oferecido um chapéu de abas feito, pelas mulheres da aldeia, em folhas de coqueiro e depois dispusémo-nos para a cerimónia, de um lado a população da aldeia, do outro as gentes do WARC. Foi rezada uma oração pelo Chefe da Aldeia, em grande silêncio, e fez um discurso na língua local e em Inglês de agradecimento pela nossa presença; as crianças da escola – eram mais de 40 – ofereceram-nos uma canção, e que bem cantavam!; houve mais discursos, pelo Commodore do Yacht Club e pelo Andrew do WARC; e seguiu-se a troca de presentes formal entre o Chefe da Aldeia e o Andrew, um grande ramo da Kava e só depois as gentes da aldeia colocaram os seus presentes, um a um, num grande monte no centro daquele terreno. Eram uns cabazes oblongos feitos de folhas de coqueiro (o coqueiro por estas paragens tem muitas utilizações!) cheios de fruta, bananas, toranjas, limões, e cestos de palha de todos os feitios tecidos pelas mulheres. Cada um dos skippers colocou também o seu presente numa outra pilha ao lado e ali havia de tudo, desde material escolar, a panelas, roupa, equipamentos (esta gente tem necessidade de tudo, talvez com excepção de comida pois a natureza é pródiga e eles são bastante frugais!). Foi uma cerimónia muito bonita, muito tocante e é espantosa esta capacidade de dar de gente que tem tão pouco. No final fiquei com a sensação que tinha dado pouco e que nos deveriam ter dado mais informação para podermos vir mais bem preparados. Durante toda a tarde a população da aldeia manteve-se muto atarefada pois esteve a preparar a festa que nos ia oferecer à noite, em frente ao Yacht Club. Foi aí montada uma grande mesa de troncos de madeira e, à hora combinada, estava coberta de pratos com a cozinha tradicional local: mandioca, taro, batata doce, banana frita, galinha, peixe, porco selvagem, a maioria deles cozinhados numa espécie de forno que fazem no chão tapado com pedras quentes e também bastante fruta. Os nossos pratos eram uma espécie de conchas feitas de folha de coqueiro e revestidos com folhas de uma outra planta e comia-se à mão. Excepcionalmente naquela noite o gerador foi ligado e havia 3 lâmpadas a iluminar todo o terreno. A comida era muito simples mas muito saborosa. Depois de todos nós nos servirmos, as gentes da aldeia, sobretudo as crianças também comeram e estiveram junto de nós o tempo todo, algumas delas já dormindo pelo chão pois estão habituadas a deitar-se com o pôr-do-sol. Esta foi mais uma cena que nos tocou profundamente: esta capacidade de dar e a alegria e o amor às suas coisas que nos transmitem!

VANUATU – 10.07.2010
Depois de uma viagem, bastante calma, de quase 24 horas chegamos a Port Vila, a capital de Vanuatu, na ilha de Efate. Port Vila fica numa grande baía em forma de ferradura e é considerada uma das cidades mais bonitas do Pacífico Sul. Estamos atracados de popa a um pontão, com água e electricidade e, com um pulo estamos em terra. A 1ª impressão que temos é de uma cidade com muito trânsito, muito movimento, muita actividade comercial, um completo contraste face ao sítio de onde viemos. Vimos um grande mercado aberto que funciona ininterruptamente de 2ª feira de manhã até sábado ao meio-dia onde as gentes das aldeias vizinhas vêm vender as suas frutas, legumes e flores (quase à hora de fechar ainda estava cheio de movimento e do colorido das bancas e dos fatos das mulheres). Visitámos um outro mercado, o Hebrida Market Place, um emaranhado de lojas onde se vende artesanato e roupa colorida e onde cada loja de roupa tem uma máquina de costura para fazer, na hora, o fato à medida do cliente. A rua principal é muito comprida e aí encontramos desde um grande hotel de 5 andares e com Casino, até uma zona de chineses onde se vende de tudo, chamada Chinatown, lojas Duty Free de bebidas, perfumes, jóias e marcas de qualidade, algumas excelentes lojas do tipo Ocidental e muitos restaurantes e bares. Ainda fomos a um Supermercado, Spar, e há muito que não via uma coisa tão bem organizada, tão limpa, com uma tão grande variedade de produtos e de congelados e sobretudo de grande qualidade. Mas uma exploração mais detalhada fica para os próximos dias! Um outro contraste, foi o dia de calor que aqui esteve, dentro do barco estão 33º e ao sol quase não se consegue estar, enquanto em Tanna esteve sempre bem fresquinho. Veremos se é para continuar!

1 comentário:

  1. Bonitos relatos...
    È natural a falta de "coisas para a troca". Assim, nas próximas trocas de prendas, podem oferecer as "minhas" duas t-shirts, acompanhadas, é claro, de uma menção especialíssima do feito... :)))

    Abraço e continuação de bons ventos.

    Zé Dias
    No Stress

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