quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Uma espécie de diário da Patroa - 18

AUSTRÁLIA – 28.07.2010
O Thor continua empoleirado no estaleiro e o tempo continua pouco simpático, frescote com o céu cheio de nuvens e uma humidade imensa. Há gente a trabalhar no barco desde manhã cedo pelo que temos que sair cedo, mas sem nos afastarmos muito tempo para o Rui poder acompanhar os trabalhos. À tarde fomos de novo ao Caneland Shopping Centre, pois havia ainda umas compras miúdas a fazer, e acabámos mesmo por comprar alguma roupa quente para as noites de navegação no poço, a preços de espantar – camisolas tipo polartec e calças a 5 e 6 Dólares Australianos! Este parece ser o local mais frequentado pela nossa frota pois naquele bocadinho que ali estivémos encontrámos pessoas pertencentes a 8 barcos! Também nos pareceu que esta é a zona nova da cidade e com melhor aspecto e foi aqui que vimos os únicos 2 edifícios com mais que um andar. No resto da cidade há casas térreas, umas de madeira e outras de tijolo, umas novas e outras velhas e mal cuidadas, e muitos armazéns, tudo misturado, ou seja, numa grande confusão urbanística, se é que podemos empregar este termo. Em resumo, uma cidade estranha e feia, mas Mackay é uma cidade mineira e uma cidade trabalhadora como os locais dizem e, portanto, a preocupação estética não é de modo nenhum dominante. Em contrapartida, a Marina é recente bem como todas as outras construções à volta, restaurantes e prédios de apartamentos para venda, bom aspecto e bem caros por sinal. À noite fomos convidados pelos nossos amigos do Eowyn para o jantar de aniversário das mulheres, Chris e Val que fazem anos exactamente no mesmo dia. O jantar foi no restaurante The Church on the Palm que, como o nome indica, utiliza o edifício do que em tempos foi uma igreja, localizada na Palmer Street. A construção original de madeira e com um ar muito simples foi mantida na íntegra, incluindo as janelas com vitrais. A nossa reserva foi feita para as 18h30, hora de jantar habitual destes nossos amigos, mas dentro de pouco tempo o restaurante estava completamente cheio, já que é considerado um dos melhores de Mackay. E na verdade o jantar estava muito bom. Os nossos amigos estavam felicíssimos pois havia pratos tradicionais ingleses como por exemplo pork belly, mas eu comi roasted duck e o Rui peixe, red throat emperor, e estavam ambos excelentes, já para não falar da exuberante sobremesa de degustação para os dois. Claro que às 21h30 já estávamos de volta ao Thor para mais uma noite em seco!

AUSTRÁLIA – 29.07.2010
O Thor voltou ao seu lugar na Marina com o fundo pintado. Agora já está no seu meio natural e nós também mais cómodos. Mas depois daqueles dias no estaleiro estava a precisar dumas grandes limpezas, de novo, por dentro e por fora, e foi isso em que nos ocupámos toda a tarde. De manhã, a Tina, a mulher do responsável do estaleiro levou-nos às compras, ao Supermercado e a uma Liquor Store, dizendo que este apoio nas compras e no transporte dos sacos até ao barco faz parte do Customer Service dispensado aos seus clientes. E bem jeito deu pois, depois da passagem dos Quarentine pelo Thor, estávamos a precisar fazer o reaprovisionamento para os próximos tempos em que andaremos em free cruising até às Thursday Islands.

AUSTRÁLIA – 30.07.2010
O tempo está a melhorar, o Sol já voltou e a temperatura aumentou, mas a humidade mantém-se muito elevada. O Eowyn já partiu em direcção a Thomas Island, vai acompanhado pelo Ronja que se juntou de novo à frota apenas para este “free cruising” pela Barreira de Corais. Depois a família regressa à Noruega de avião e o barco é enviado de navio. Nós não os pudémos acompanhar pois a revisão do motor e a do gerador só foi feita durante esta manhã. O dia passou-se com mais arrumações e limpezas – como pode um barco tão pequeno dar tanto trabalho!! – e com mais umas horas passadas na lavandaria – fiz 4 máquinas de roupa e outras tantas de secagem – mas está tudo num brinquinho e pronto para deixarmos Mackay, rumo ao Norte. Também já não havia aqui mais nada para fazer.

 AUSTRÁLIA – 31.07.2010
A partida de Mackay estava planeada para muito cedo, mas um nevoeiro cerrado atrasou-nos a largada. O destino era Hamilton Island nas Whitsundays, a uma distância de 50 milhas, cerca de 8 horas de viagem onde nos ficámos de encontrar com o Eowyn. A viagem foi deslumbrante. O sol apareceu com força, a temperatura continua a aumentar e não havia vento nenhum o que não sendo bom para a navegação, deu-nos um mar estanhado, como se diz na gíria marítima. Navegámos dentro da Barreira de Corais, a profundidades entre 15 e 25 metros, com o mar de uma cor verde intensa e sempre por entre ilhas, umas pequeninas e outras maiores, mas tendo sempre a costa à vista, ao longe no horizonte. Vimos umas baleias ao longe, a menos de 1 milha – esta é a altura do ano de elas se passearem por aqui – e fomos acompanhados praticamente durante toda a viagem por muitas borboletas e até por uma libelinha. Com esta pacatez toda almoçamos no poço, com mesa posta, e depois fiz um bolo, de novo o bolo de chocolate da Mafalda, para servir de bolo de aniversário, agorab o meu! Hamilton Island é uma da ilhas das Whitsundays com resorts, das 72 ilhas há 7 com resorts, e é uma das poucas ilhas que não é Parque Nacional e tem uma grande marina. É um destino de luxo, até tem um aeroporto onde “cabem” 737 (como diz o Rui) e espanta a quantidade de grandes “lanchões” que por aqui estão atracados. O nosso lugar na Marina também é de luxo, um cais privativo de “super yacht” mesmo em frente aos restaurantes. Num deles havia um casamento e tivémos música até altas horas. Os Eowyn vieram tomar um copo connosco antes de jantar, ainda aqui tínhamos as garrafas de champanhe que o Paco Sotomayor tinha comprado para a minha despedida no Equador e depois fomos todos jantar à Steakhouse aqui em frente. A impressão que temos até agora dos Australianos é de gente com grande abertura, informalidade, simpatia e uma grande vontade de serem prestáveis. Alguns têm um aspecto muito tosco, em Mackay vimos gente mesmo estranha, mas ainda assim muito simpáticos. E quando chegámos ao nosso lugar na Marina tivémos um desses exemplos. Um casal, dos com muito bom aspecto, apareceu a perguntar se íamos ficar naquele lugar por muitos dias pois tinha-lhes sido destinado pela Marina, a partir do dia seguinte. A nossa intenção era ficar só uma noite pelo que a questão ficou esclarecida, mas entretanto começámos à conversa e ficámos a saber que o seu filho tinha estado em Portugal, de férias, na semana passada e tinha ficado encantado com o país (que pequeno mundo!!), deram-nos imensas informações do que havia e se podia fazer na ilha e convidaram-nos para jantar, mas não pudémos aceitar pois já estávamos comprometidos com os Eowyn e era o meu jantar de anos. Uma simpatia!

AUSTRÁLIA – 01.08.2010
Hamilton Island é um grande destino turístico, não de massas, mas tem muito movimento apesar de estarmos no Inverno. À volta da Marina parece uma cidade, tem tudo o que é preciso, lojas, supermercado, bakery, restaurantes, bares, night club, etc. e é tudo de qualidade e bastante caro. Em terra anda-se de buggy que se alugam a 85 Dólares Australianos por dia e, para além disso, há um shuttle, gratuito, que percorre a ilha e passa pelos diversos resorts. Apesar de todo este movimento o principal som que se ouve na ilha é dos corvos que há em grande quantidade – em Mackay também era assim – mas também há muitas catatuas brancas de popa amarela, papagaios coloridos com penas azuis, verdes, vermelhas e amarelas, gaivotas e muitos outros passarinhos. Ao meio do dia partimos rumo a Cid Island que fica a menos de 10 milhas e onde vamos passar a noite, só nós e o Eowyn, fundeados numa baía abrigada e de águas pouco profundas. Continuamos sem vento, o mar está muito calmo, agora a cor é turquesa clara, e a paisagem é lindíssima pois navegamos por entre ilhas, mas muito próximo de terra, dá par ver as praias de areia branca e a floresta que chega até quase ao mar. Voltámos a ver baleias ao longe, parecendo que também elas se passeiam pelas Whitsundays! Já noite cerrada tivémos mesmo que mudar de sítio pois pelos efeitos da maré, que aqui tem grandes amplitudes, ficámos ainda mais baixos e a corrente fazia bastante barulho. Nessa altura ainda apanhámos um grande susto pois de repente a sonda passou a indicar uma profundidade de 1,7 metros e, como o Thor cala 1,85 m, já deveríamos estar encalhados ou pelo menos enterrados na areia. Afinal deveria ter sido um grande cardume de peixes que passou por baixo da sonda e que, talvez atraídos pela decklight, se aproximaram do barco e aí se mantiveram fazendo grande barulho e dando grandes saltos. Eram centenas de peixes de dimensões consideráveis de ambos os costados do barco, de cor prateada quando lhes apontávamos o flash, um espectáculo impressionante! Depois fomos dormir, eram 9 da noite, bastante tarde já, pois o Sol tinha-se posto às 18 horas!

AUSTRÁLIA – 02.08.2010
À última da hora decidimos ir a Airlie Beach considerada nos Guias de Viagem uma das praias mais bonitas da Austrália, o que nos aguçou a curiosidade. Estávamos apenas a 15 milhas de distância, mas nem o Eowyn nem o Kalliope que também anda por perto nos acompanharam. O tempo mudou, o vento apareceu com força, 20/25 nós, e assim a viagem foi ainda mais rápida. À chegada, e apesar de já termos informação das exigências feitas pela Marina, experimentámos pedir lugar e também nos exigiram um seguro de 10 milhões de dólares australianos !!! – o nosso é de 1 milhão de  Euros - razão pela qual ainda nenhum dos barcos da frota aqui deu entrada. O Rui bem refilou com eles mas nada feito o que é estranho, pois não tínhamos tido esta informação anteriormente, nem nunca esta questão foi levantada pelas outras marinas onde ficámos! Mas, como tanto à saída da Marina como no outro lado da baía, há imensas bóias não tivémos problemas para fundear e bem vistas as coisas ainda poupámos uns dólares!! Airlie Beach fica situada numa imensa baía que um conjunto de ilhas à sua entrada ainda tornam mais protegida, baía que estava cheia de barcos fundeados, seriam mais de 150, e ainda havia bóias disponíveis (mas a Marina também parecia cheia ou quase...). É uma cidadezinha muito moderna, cheia de bares, restaurantes e lojas para turistas e casas de veraneio que começam a ser prédios de apartamentos construídos pelas montanhas acima. Tem uma grande praia, mas como na maré baixa o mar ficava muito longe – toda a baía parece ficar numa espécie de planalto pois a mais de 2 milhas de distância de terra já estávamos com profundidades de 7 metros – construiram ali ao lado uma grande lagoa com água do mar que parece uma enorme piscina e com todas as comodidades à sua volta desde sanitários ultramodernos, mesas de picnic até barbeques a gás que nos pareceu funcionarem sem ser preciso meter nenhuma moeda....E em toda esta zona era proibido fumar e beber bebidas alcoólicas. Uma cidade toda voltada para o turismo, aqui mais de massas, mas mantendo um óptimo aspecto quer no comércio como nas casas de habitação. Almoçámos no Whitsandays Yacht Club que tinha a doca dos dinghys, démos um grande passeio pela cidade e voltámos ao Thor para no dia seguinte rumarmos a novo destino. E o destino era Bowen.

AUSTRÁLIA – 03.08.2010
Bowen, uma pequena cidade na costa australiana, 30 milhas a norte de Airlie Beach, foi o nosso destino seguinte. A viagem foi tranquila, mas navegar neste mar de corais requere muita atenção e cuidados redobrados. A parte mais sensível foi a Passagem junto a Gloucester Island onde navegámos a passo de caracol e onde chegámos a ter 2,7 metros de profundidade. No percurso o Rui ainda viu uma tartaruga a passar e golfinhos mas em ambas as ocasiões eu estava no salão e já não fui a tempo de os ver. Em Bowen ficámos numa pequena marina – outra preocupação foi jogar com as horas das marés para termos profundidade suficiente para a entrada e para a saída – e voltámos a juntar-nos ao Eowyn. A cidade é muito pequena, menos de 8.000 habitantes, e tem uma marginal recente, muito bem arranjada onde também havia mesas para picnic e os tais barbeques gratuitos, mas estava tudo vazio. O resto, à hora que por lá passeámos e que foi entre as 16h30 e as 18h, parecia uma cidade fantasma e, ao mesmo tempo, uma cidadezinha americana dos anos 50, ruas largas com um ar limpo, casas térreas, muito comércio, mas tudo fechado e não havia ninguém nas ruas, nem automóveis. Ainda fomos a um Supermercado que estava aberto e era excelente e depois jantámos no Yacht Club que mesmo assim nos pareceu a melhor alternativa da terra pois para além deste só havia os dos hotéis que não deveriam ter mais de 2 estrelas - tinham-nos avisado na Marina que "fancy restaurants" Bowen não tinha. Bowen teve o seu momento de fama  em 2007 quando ali decorreram as filmagens do filme Australia com a Nicole Kidman (quando regressar a Portugal tenho que ver) e tem uma outra particularidade, uns grandes murais espalhados pela cidade, pintados por artistas de Queensland, são 24, do tipo dos murais do MRPP no tempo da Revolução, e que lhe dão um toque especial.

2 comentários:

  1. -Ainda há boas vidas.
    E eu que nunca mais estou reformado.
    Abraços do M.CABRAL

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  2. Bom, com uns dias de atrazo mas desculpáveis tendo em conta o desconhecimento da efeméride, aqui deixo oe meus parabéns à Patroa e autora do próximo best-seller, o qual continua em excelente ritmo e, cada vez mais, próximo da consagração.
    Beijinhos e abraços e continuação de bom ventos e marés e... do bem merecido descanso.
    Délio Padinha

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