quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Uma espécie de diário da Patroa - 22

AUSTRÁLIA – 19 a 23.08.2010
A largada para a 13ª etapa foi dada ao meio dia frente a Thursday Island e esperavam-nos cerca de 750 milhas até Darwin e 5 dias de viagem. De manhã ainda fomos a terra em Horn Island fazer compras para a viagem, numa espécie de supermercado que mais parecia um armazém, mas onde encontrámos tudo o que era preciso, pão, fruta e legumes já que no dia anterior tínhamos já comprado carne num talho em Thursday Island.  À partida estavam 12 barcos - 5 (Jeannius, Brown Eyed Girl, Ocean Jasper, Crazy Horse e Wild Tigris) tinham ficado para trás e apanham-nos mais à frente e o Ariane partiu um dia antes -, soprava um vento bastante forte com rajadas que atingiam os 36 nós o que tornou a partida num momento bem complicado . Mas correu tudo bem, com Thor a partir bem, e com aqueles ventos e uma forte corrente favorável chegou a atingir uma velocidade superior a 10 nós. Depois tudo acalmou, os barcos começaram a dispersar-se, durante o 2º dia ainda conseguíamos distinguir as velas de 4, ao 3º dia só de 1 e ao 4º já não se viam velas de nenhum barco, embora pelo contacto rádio diária sabemos sempre onde cada um se encontra. O Eowyn andou sempre perto pois os 2 barcos têm velocidades muito semelhantes - aliás andam pegados, no bom sentido, há muito tempo - mas a meio da viagem rompeu a vela grande e foi ficando mais para trás, para grande desgosto do Graham que não "aguenta" ser batido pelo Thor o que tem acontecido com demasiada frequência. O nosso dia a dia em viagem é quase sempre igual, há as refeições, pequeno almoço, almoço e jantar, afinam-se velas, fazem-se vigias e descansa-se sempre que se pode, no cockpit e à noite por vezes também no salão, pois a navegação a dois é muito exigente. A maior distracção acontece quando passa por nós uma tartaruga, boiando ao sabor da corrente com a cabecinha no ar, ou uma cobra do mar, serpenteando as suas listas brancas e pretas ao de cima da água, ou quando os golfinhos vêm brincar junto do Thor, como aconteceu em cada um dos nossos dias de navegação. Já deixámos para trás a Grande Barreira de Corais com as suas águas tranquilas, pouco profundas, claras e transparentes, de um azul turquesa ou por vezes mais verde turquesa intensos, navegando sempre entre ilhas e à vista de terra. A navegação fazia-se agora no mar de Ararufa, já no Oceano Índico, com maiores profundidades, sem os perigos dos corais e sem terra à vista. A maior adversidade aqui são as correntes, sobretudo quando atravessámos o Estreito de Van Diem, já mais perto de Darwin, onde jogar com as marés é fundamental para se poder continuar a avançar. A nós correu-nos tudo muito bem, a progressão foi sempre rápida com ventos de popa na ordem dos 20 nós, até ao último dia em que o vento desapareceu por completo. Ora sem vento temos que usar o motor e as horas de motor contam como penalização para a classificação nas etapas – e anda aqui uma “guerra aberta” entre alguns barcos, Eowyn e Thor incluidos - entretanto o Rui “descobriu” um caminho mais curto, uma espécie de atalho com menos uma dúzia de milhas, mas que obrigou a uma gincana num canal apertado e a uma noite inteira de navegação e vigilância redobradas. Finalmente a linha de chegada, em Darwin, foi cortada às 4h35 do dia 24, cerca de 10 horas mais cedo do que inicialmente planeado o que nos deverá dar um excelente resultado. O único contratempo que tivémos durante a viagem foi terem-se rompido os canos da torneira da cozinha o que obrigou a desligar a bomba de água a 2 dias de chegarmos a Darwin. Felizmente que o Thor é um barco antigo que ainda tem umas bombas manuais de água doce e salgada na cozinha o que nos permitiu continuar a ter água no barco ainda que de uma forma limitada.

AUSTRÁLIA – 24.08.2010
À chegada a Darwin todos os barcos que tenham vindo de um porto exterior, mesmo que, como era o nosso caso, já tenham entrado noutro porto australiano, têm que ser obrigatoriamente sujeitos a uma inspecção do casco e a um tratamento químico nas entradas de água, para além de ser exigido o comprovativo de que foi aplicado o antifouling há menos de 6 meses. Assim, a 1ª paragem em Darwin foi em Fannie Bay, onde fundeámos à espera da inspecção marcada para o meio dia, tendo sido aproveitada a manhã para dormir pois tínhamos passado a noite em claro. O trabalho dos mergulhadores foi rápido, mas o produto aplicado obriga a uma quarentena de 14 horas sem poder ser usada a água a bordo, pelo que logo que este trabalho ficou concluído, o dinghy foi posto na água e rumámos a terra em direcção ao Sailing Yacht Club, um espaço muito agradável, com bar, restaurante e uma grande esplanada frente ao mar. A 1ª prioridade do dia foi reparar a canalização da torneira da cozinha, tivémos que comprar uma torneira nova, mas ao fim da tarde o Rui montou-a e voltámos a ter o Thor a funcionar em pleno. Também tivémos que ir aos Customs, mas não tivémos que preencher mais nenhum impresso e ao fim de 5 minutos estávamos despachados, um trabalho simples e eficiente. Em Darwin o tempo está muito quente, mais de 30º durante o dia, e a humidade também é muito elevada, condições tropicais a que já não estávamos habituados nos últimos tempos e a que temos que nos ir calmamente adaptando.

AUSTRÁLIA – 25.08.2010
Manhã cedo toda a frota rumou às Marinas que lhe haviam sido destinadas, os monocasco para a Tipperary Waters e os catamaran para o Fishermans Wharf, pois só haveria profundidade suficiente para entrar na marina até às 9h. A entrada foi barco a barco, nós fomos o penúltimo, pois ambas as marinas têm comportas por causa da enorme amplitude das marés e a entrada de cada barco demora cerca de 20 minutos – abrir a comporta exterior, entrada do barco, fecho da comporta exterior, nivelamento da água e abertura da interior, uma trabalheira. A Tipperary Waters é uma marina pequena, estarão aqui cerca de 50 barcos, mas bastante acolhedora, com casas à volta com o seu cais privativo e bons serviços de apoio, restaurantes, supermercado, lavandaria, etc. Como é habitual este primeiro dia foi destinado às limpezas, por fora e por dentro, e à lavagem da roupa - fiz 4 máquinas de roupa e outras tantas de secagem - e à noite fomos até Dinah Beach Yacht Club, ficava a 5 minutos a pé, onde havia musica ao vivo e um bar e serviço de restaurante tipo take away. Tudo muito “australian style” e às 10h regressámos ao barco pois ainda temos algumas horas de descanso por acertar.

2 comentários:

  1. Hello!!!!!
    Boa essa de vires "calhada" em limpezas ... pode dar jeito !!! :)
    Nota: todas as fotos que tenho do Rui em que ele olha para cima , inevitavelmente está de boca aberta! Alguma prece especial às velas ???? :)
    Cuidado com os tubarões!
    Beijos e BOAS marinhagens.

    ResponderEliminar
  2. olá senhores navegadores...daqui da costa da caparica onde o mar é mais azul o velhote Luis Marques,deseja bons ventos.Todos os dias espreito o vosso site,propociona uma leitura agradavel,e boas vistas das fotos..Já agora que estão perto poder passar por dili timor leste.Genuino madruga foi o 1º velejador a chegar a timor em solitario. em duas pessoas eram os senhores , falo de portugueses

    ResponderEliminar