sexta-feira, 30 de julho de 2010

Uma espécie de diário da Patroa - 17

AUSTRÁLIA – 25.07 2010
Aos Domingos há um autocarro que faz um tour hop-on hop-off pela cidade de Mackay, é grátis, com partidas da Marina de hora a hora. Apanhámos o nosso às 11:00, a cidade fica a cerca de 6Km da Marina e estende-se por uma grande área, com construções térreas, bastante desalinhadas e dos mais diversos feitios, e é atravessada por um grande rio, o Pioneer River. Tem actualmente cerca de 70.000 habitantes e, dizem os locais, foi a cidade com maior taxa de crescimento na Austrália nos últimos 2 anos. As principais actividades da região são as minas, o açúcar, o gado e pretendem que seja também o turismo pois Mackay tem uma localização privilegiada, pois é a cidade mais próxima das Whitsandays Islands, o grande destino turístico Australiano, é um grande centro mineiro e açucareiro e está rodeada de importantes Parques Nacionais. Mackay é uma cidade relativamente recente, data de 1860 altura em que os primeiros colonos Ingleses aqui se instalaram e o seu nome provêm dessa 1ª família, os Mackay que por acaso eram Escoceses (curiosamente na nossa frota há um barco, o Voyageur, pertencente a Escoceses, o David e Susan Mackay, mas parece que não são da família). O centro da cidade tem também construções térreas – esta é uma zona de ciclones – algumas com a data da sua construção, entre 1880 e 1920, pintadas com cores bastante fortes ou com paredes de tijolos e o comércio é muito intenso embora não pareça ser de muita qualidade. Depois de nos passearmos por ali e do Rui ter feito uma massagem nas costas numa tenda instalada na rua e pertencente a um ‘exótico’ casal Australiano – aos domingos funciona uma espécie de mercado aberto na rua principal – voltámos para a Marina pois estava prevista um “briefing” no Clube Náutico sobre a navegação na Grande Barreira de Recifes. Eram 3 experientes navegadores Australianos que decidiram partilhar com a frota informações importantes sobre a navegação nesta área e locais a visitar, mas tinham todos um sotaque tão cerrado que só os Ingleses presentes os entenderam e mesmo assim.... Nós e a generalidade dos assistentes não entendemos quase nada do que disseram e até um americano sentado ao nosso lado confidenciou não perceber o que diziam. Daquela mais de 1 hora de conversa apenas retive que mesmo nesta zona, e quanto mais para norte pior, os crocodilos andam por aí, mesmo no mar e, portanto, tomar banho só em zonas devidamente protegidas. Também com a água do mar a 18º, depois dos 30º na Polinésia Francesa, e com estas temperaturas tão fresquinhas, da ordem dos 20º, não apetece sequer pensar em tomar banho. À noite houve uma recepção oferecida pelo Board de Turismo local no Hotel da Marina onde foram servidas carnes australianas acompanhadas de sangria e onde o WARC aproveitou para celebrar a meta histórica da chegada à Austrália com metade da Volta ao Mundo percorrida, para saudar os barcos que agora nos vão deixar, o catamaran Liza da Eslovénia e o Sunrise, um Sun Odissey 43 Alemão, e fazer uma distribuição de prémios muito engraçada em que conseguiu atribuir prémios a todos os barcos que aqui conseguiram chegar. O Thor ganhou o prémio dos barcos com apenas 2 tripulantes, o mínimo permitido nesta Volta ao Mundo, juntamente com o Ciao, o Voyageur e o Jeannius, entre os 20 barcos que ainda continuam em prova. A noite estava fria, o jantar foi simpático e às 21h30m já estávamos a bordo e quase prontos a ir para a cama! Deitar cedo e cedo erguer ...

AUSTRÁLIA – 26.07 2010
Uma das imposições Australianas na entrada do país é a apresentação de um comprovativo de que o casco do barco teve a aplicação de um antifouling (um produto contra as algas) nos últimos 6 ou 12 meses, dependendo dos estados ou, em alternativa, fazer essa aplicação logo à chegada. O Thor faz essa aplicação todos os anos e a última foi feita no Tagus Yacht Center em Outubro de 2009. Assim, tal como tinha sido previamente acordado com o estaleiro instalado aqui ao lado da Marina, o Thor foi retirado da água às 7h00 de 2ª feira, prevendo-se que os trabalhos a realizar demorem cerca de 3 dias. Durante este tempo teremos que continuar a dormir no barco já que os hotéis de Mackay e redondezas estão completamente cheios por causa de uma grande exposição mineira a decorrer na cidade. Esta é também uma experiência nova, dormir no Thor com este “empoleirado” em cima de estacas, em seco, com electricidade, mas sem poder ser usada água. O estaleiro tem casas de banho e chuveiros com boas condições mas todas as refeições têm que ser feitas em terra, pelo que hoje experimentámos alguns dos restaurantes da Marina: ao almoço o Steakhouse on the deck e ao jantar o Sachtmo’s on the reef, Tapas and Wine Bar. Ambos de qualidade mediana. Ainda durante a manhã fui para a lavandaria existente na Marina, lavar a roupa, aqui com máquinas a sério que funcionam com água quente e até se pode pôr amaciador e lexívia, um mimo. Há muito que a nossa roupa não era lavada e secada com tão boas condições e que bem precisada estava!!

AUSTRÁLIA – 27.07 2010
O programa deste dia incluía um Tour com partida da Marina às 8h30 e chegada prevista às 17h30. O dia apresentava-se chuvoso e ainda mais frio que nos dias anteriores o que não era bom prenúncio para o passeio. Éramos 20 e o autocarro, este aqui era novo e com todas as comodidades, era conduzido por um velho navegador reformado que era, em simultâneo, o nosso guia. A 1ª paragem foi para visitar a casa – Greenmount Homestead - que foi do tal 1º colono que deu o nome à terra, o Sr. Mackay, casa que se mantém praticamente inalterada desde a data da sua construção, por volta de 1880, e que há cerca de 20 anos reverteu para o governo local que agora trata da sua conservação. Quando o Sr. Mackay chegou à Austrália na qualidade de Inglês livre, isto é, não era um dos condenados que escolheram ser levados para a Austrália em vez de cumprirem pena em Inglaterra – é por causa disso que os Australianos chamam aos Ingleses os POHM (prisoners of her majesty) -, teve o direito de escolher a terra, a localização e a área, que pretendia para si com o único compromisso de ter que a marcar toda e todos os anos ser obrigado a fazer investimentos sob pena de a terra reverter de novo para o estado. O Sr. Mackay escolheu e marcou o que é hoje o Pioneer Valley com cerca de 100.000 ha de extensão onde ainda hoje a principal produção é a cana de açucar. Logo que saímos de Mackay começamos a ver as plantações de cana de açucar, são kms e kms a perder de vista, e passámos também algumas por algumas fábricas de transformação à volta das quais cresceram umas pequenas povoações. O destino seguinte era o Eungella National Park situado numa montanha a cerca de 60 km de Mackay, famoso pela floresta tropical, pela quantidade de pássaros exóticos que aí habitam e pelos estranhos animais existentes no Broken River, os Platypus, que são uns animais peludos com uma cauda e um bico como os patos, vivem na água, são mamíferos, põem ovos e quando nascem os filhos dão-lhes de mamar. À medida que subíamos a montanha o tempo ia piorando, mais frio, mais chuva e uma visibilidade muito reduzida pois estávamos mesmo dentro das nuvens, o que nos estragou o programa que previa ainda um picnic e uma grande caminhada por um trilho na montanha. Platypus não vimos nenhum, apenas as fotografias, no rio boiavam pachorrentemente umas tartarugas, havia muitos pássaros e pavões e as vistas também não eram nenhumas pois não se via praticamente nada para fora do autocarro. Ainda fomos ao Finch Halton Gorge, mas acabámos num bar de um Cricket Club a beber umas cervejas e a comer umas ‘pies’ que deliciaram os nossos parceiros Ingleses pois diziam ser excelentes e com o típico sabor do seu país (um pouco estranho para nós!). O Tour valeu ainda pela simpatia do nosso guia que durante toda a viagem foi dando muitas informações sobre a Austrália e a região, bem como sobre as navegações que se avizinham nas Whitsunday Islands por entre os recifes de coral.

Daily Log - Mackay 02

Há já uma semana que estamos parados na Marina de Mackay. O Thor já está de novo na água limpinho e polidinho, com um novo antifouling - o anterior não estava nada mau - com um novo casquilho na aranha do hélice - é o terceiro em 2 anos - o bimini reparado mas não houve tempo para a  genoa e por isso montei a mais pequena. Só a tinha montado o ano passado nas Rias Baixas mas o pouco vento não me deixou ver nada, agora teve de ser pelo menos até ter oportunidade de reparar a maior. No motor foi mudado tudo - óleo, filtros impeller e afinadas as válvulas - uma estava a dar-me cabo do ouvido - assim como no gerador com, finalmente, uma nova bomba do circuito de arrefecimento. Enfim está tudo quase como novo apenas o indicador da pressão de óleo do motor está sempre no máximo quando as rotações estão acima do "ralenti". Não foi possível arranjar quem tratasse disto pelo que vai assim. Se alguém me poder dizer como se "cura" este problema  ou pelo menos o que hei-de mandar verificar na próxima oportunidade, eu agradeço. Amanhã Sábado vamos daqui para fora começando a subir a Grande Barreira de Coral, provavelmente até Hamilton - serão cerca de 50 milhas, o tempo está bom, finalmente, depois de uma semana quase inteira de chuva e frio. Vamos voltar a mexer já chega de dolce farniente!! Boas férias para quem está de férias e para quem não está, paciência melhores dias virão. Divirtam-se mas cuidem-se. Beijinhos e abraços

domingo, 25 de julho de 2010

Uma espécie de diário da Patroa - 16

VANUATU – 14.07.2010
Começaram os preparativos para a próxima etapa, Port Vila – Mackay, cerca de 1100 milhas, tempo de duração prevista 8 dias : combustível, aprovisionamentos, previsões meteorológicas, marcação da viagem nas cartas e preparação do barco, incluindo o dinghy. Fiz comida para os próximos 4 dias e os stocks existentes de carne e peixe frescos ou congelados, frutas, legumes, laticínios e sabe-se lá que mais têm que ser consumidos ou serão confiscados pois a Austrália é o país mais rigoroso do mundo no controlo e proibições de entrada de produtos. Já a pensar nestas condicionantes e porque tinha muita carne congelada a bordo (privilégios de quem tem um congelador), o Emílio do Kalliope – agora com 2 novos tripulantes, um casal muito novinho, o Carlos e a Cristina – convidou-nos e ao Graham e Mike do Eowyn para um jantar de ‘barbacoa’ de carne. Levei a sobremesa, o bolo de chocolate da Mafalda, que fez um sucesso e desapareceu num ápice. Já me pediram para repetir.

PACÍFICO SUL – 15.07.2010 a 23.07.2010
A partida de Port Vila foi dada às 12H00 do dia 15 de Julho (5ª feira) e chegámos a Mackay na Austrália às 14H00 locais (1 hora menos que em Vanuatu e 9 horas mais que em Portugal) do dia 23 de Julho (6ª feira). Foram 8 dias e 8 noites de viagem, mais de 1100 milhas, a minha mais longa viagem de sempre. Tivémos dias com pouco vento e bastante sol e com os mais belos nascer e pôr do sol que tenho visto. Tivémos muito vento, nuvens, aguaceiros e muito mar, dias em que andámos muito depressa sempre à vela. Entretanto a temperatura ia descendo e como as previsões meteorológicas antecipavam vento ainda mais forte para os últimos 2 dias, a linha de chegada da prova cronometrada (isto às vezes também é um rally!) foi antecipada para o início da Passagem Hidrográfica, uma espécie de corredor por entre os recifes de corais que nos leva até à costa Australiana. Ao contrário do que estávamos à espera, a viagem a partir daí ainda foi mais dura: vento muito forte, sempre na ordem dos 25/30 nós, correntes desfarováveis de mais de 4 nós, a água do mar que passava por cima do barco e molhava tudo e todos (sobretudo o Rui), uma atenção redobrada pois estávamos a passar por entre os recifes (na edição anterior do WARC, o Peter Turner com um Amel como o Asolare que tem agora, encalhou num recife e afundou o barco), acrescida de alguns problemas que houve que resolver durante a noite, nomedamente na retranca onde se partiu a “peça” que a agarrava. Mas chegámos bem, embora estoirados, muito estoirados. A vida dentro do barco correu, durante toda a viagem, bastante bem. A bordo não há muito para fazer, sobretudo para mim e porque íamos num espírito desportivo (também não havia hipótese para ter outro), para além de ler, fazermos as refeições e as vigias (o Rui tem-me sempre poupado muito), a navegação e descansar. Foi boa ideia ter preparado antecipadamente as refeições quentes e com mais umas sopas que fiz para a noite, sopas quase tão boas como as que a Zita Gonçalves fazia no Cruzeiro de Verão de 2008, comemos sempre muito bem. Quase sempre, pois nas últimas 2 noites fizémos dieta pois nem consegui aquecer a sopa tal era o estado de reboliço dentro do barco. E assim nos despedimos do Pacífico Sul. Agora estamos no mar de Coral, já dentro da Grande Barreira de Recifes e a caminho do Índico.

AUSTRÁLIA – 23.07 2010
Chegámos a Mackay, estado de Queensland, na Austrália. É ao longo deste grande estado no norte da Austrália que se estende a Grande Barreira de Recifes de Corais, considerado o mais extenso, tem mais de 2.000 Km de comprimento, mais bem protegido e menos afectado sistema de recifes do mundo. E chegámos também a um novo mundo! A Marina de Mackay é muito grande e tem óptimas condições. À chegada dirigimo-nos ao pontão da Quarentena de onde só podemos sair depois de devidamente inspeccionados. O WARC tinha tudo muito bem organizado, e isto é Austrália, e os Inspectores entraram logo a bordo, nem deu tempo para dar alguma compostura no interior. Eram 2 e comigo ficou a parte dos víveres. Não chegaram a inspeccionar toda a nossa dispensa espalhada pelos diversos compartimentos existentes na cozinha e no salão e, no final, apenas nos levaram o lixo, uns alhos e uma embalagem, fechada, de presunto e uma outra, aberta, de queijo parmesão. Claro que as cebolas, batatas, ovos, manteiga, maionaise, ketchup, a comida e as frutas e legumes sobrantes já tinham sido deitados fora, pois também teriam sido confiscados. Também inspeccionaram muito cuidadosamente alguns dos presentes que tínhamos comprado, sobretudo cestos de palha à procura de eventuais animais ou  insectos aí existentes. Ao mesmo tempo o outro Inspector ia fazendo um questionário extenso sobre as condições do barco, matéria de que o Rui se ocupou. Ainda os da Quarentena não tinham terminado o seu serviço, já os Inspectores de Customs e de Immigration entravam também a bordo, com mais um rol enorme de perguntas e de validação de documentos. Foram todos muito atenciosos e como nos tinha sido dito, a Inspecção demorou, no total, 1H45M. Terminada esta parte, dirigimo-nos então para o nosso local de amarração na Marina. Esta é certamente uma das melhores Marinas em que estive, não só pelas condições dos pontões, como também pela qualidade dos bares e restaurantes que tem à volta e todos com um excelente aspecto. Isto é verdadeiramente um novo mundo. Gosto deste!

AUSTRÁLIA – 23.07 2010
Dia de limpeza geral do Thor, por dentro e por fora, que nos ocupou toda a manhã. O vento continua forte e está bastante frio. Não estávamos à espera desta temperatura. Basta dizer que o termómetro, no interior do barco, desceu dos 30º para os 20º. De tarde apanhámos uma boleia até à cidade que nos deixou no Caneland Shopping Centre e acabámos por não passar dali. Parecíamos 2 miúdos deslumbrados! Tem tudo, ou quase, coisa que já não víamos há muito. Sociedade de consumo, tipo Americana, mas que sabe muito bem. Num Department Store, Big W, fizémos muitas compras e até comprámos uma ‘barbacoa’ a gaz tipo Kalliope. O Supermercado, Woolsworth, é um verdadeiro assombro, mas como já tínhamos o carrinho das compras cheio, também comprámos um grande com rodas, só amanhã ou depois poderemos ir fazer as compras para o reabastecimento do barco. Para o fim da tarde apareceram umas nuvens muito escuras que acabaram numa noite de chuva intensa, sem graça nenhuma. Prudentemente tínhamos comprado uns camarões para jantar a bordo e chegámos ao Thor mesmo a tempo de fechar o barco e evitar que tudo de novo se molhasse. Entretanto as mulheres do Graham e do Mike chegaram, a mulher do Mike trouxe a bomba que o gerador precisa e que em Inglaterra custou 1/5 do preço que tinha sido pedido na Austrália, passaram pelo Thor para nos convidarem para jantar em terra e acabámos todos por ficar a bordo, a comer os camarões, beber um vinho branco fresquinho e a conversar. Lá fora continuava a chover copiosamente!

Daily Log - Mackay 01

Pronto chegámos finalmente à Marina de Mackay em 23 de Julho pelas 14H00 locais, 26 horas depois de entrarmos na "barra". Foi um pesadelo este trajecto até Mackay, como nunca tinha apanhado. Foram mais de 90 milhas com vento pela frente, entre os 25 e os 30 nós, com ondas não muito altas mas de período muito curto e metido num canal sem poder fugir para lado nenhum. O Thor batia sistematicamente contra o mar e a velocidade andou muito tempo nos 0.9 nós!!! Um martírio meus amigos, que durou uma eternidade e pôs bem à prova a nossa - e a da Patroa em particular - resistência física (já com 7 dias de mar) e psicológica (parecia que iríamos ficar ali eternamente). Foi muito duro mas que nos deixou mais fortes e capazes para estas aventuras - depois de descansarmos adequadamente. A meio da noite ainda se partiu a manilha que segura a retranca - uma cambadela incontrolada provocada por uma onda mais atravessada e com o barco sem seguimento - deu uma vela para cada lado, (a retranca ficou livre com a vela envergada e a genoa para o outro lado e o vento nos 25 nós!) e o recife ali perto. As mãos eram poucas para tanta coisa que havia a fazer e foram uns 20 minutos muito atarefados. A Ana portou-se lindamente reagindo adequadamente e seguindo à risca as instruções que lhe dava, resultado das bastantes milhas que já fizemos juntos. Controlámos a situação metemos alguma ordem naquele barco e andámos para a frente porque o destino era Mackay, mas foi muito duro e por isso eu comecei por dizer, chegámos finalmente!!!! Depois foram as "coisas" do costume com as autoridades da alfandega, emigração, "quarentaine" a serem bem exigentes mas muito profissionais. Correu tudo bem e sem demoras e cerca de 2 horas depois de entrar na marina estava a atracar no lugar atribuído e com todos os papeis em ordem e com o barco "legalizado". Bem bom! A marina é de 1º mundo com muita qualidade em tudo, no atendimento, no equipamento, no enquadramento. Já não estava habituado a este tipo de "coisas". Em contrapartida o tempo está uma miséria, o vento que nos deu cabo da cabeça nestes últimos 2 dias, continua, a temperatura está muito baixa - nos 20/22º - com a água do mar nos 18º e a ameaçar chuva. Acabaram-se as "grandes" temperaturas das ilhas paradisíacas dos mares do Sul, o Pacífico despede-se fazendo-se cobrar bem e deixando-me recordações inesquecíveis. Num dos próximos dias farei um apanhado desta enorme travessia do maior oceano com  que concluímos metade desta viagem "round the world".  Pois é o Thor VI chegou à Austrália ... e continua. Beijinhos e abraços

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Daily Log - Port Vila/Mackay 02

Meus caros amigos e amigas já vamos com 6 dias de viagem - o que aqui para a Patroa já parece uma eternidade - e com cerca de 870 milhas percorridas, o que dá uma média diária de cerca de 145 milhas o que é bem razoável. Faltam ainda cerca de 150 milhas para chegarmos à Grande Barreira de Coral - quem havia de dizer que um dia eu andava por aqui ! - que vamos atravessar na "Hydrographers Passage" que dá acesso a um intrincado sistema de canais que nos leva à marina de Mackay (diz-se Mackái com o á bem aberto senão os Aussies corrigem logo!) cerca de 125 milhas depois. É uma "barra" larga bem identificada e iluminada que é utilizada por "mega" petroleiros, portanto lá grande deve ser mas como "aqueles meninos" não se desviam (e provavelmente nem podem) o melhor é estar muito atento. Vão ser 120 milhas bem puxadas! O Thor continua bem e sem problemas de maior, estando previsto que em Mackay seja tirado da água para reaplicar o antifouling, verificar zincos, lubrificação do hélice e as manutenções e verificações normais do motor gerador, aparelho, velas, dessalinizador, etc. A genoa mostra alguns sinais de desgaste e a necessitarem de uma intervenção mais cuidada assim como o bimini que tem sofrido bastante com o vento forte. Enfim nada de anormal e o estaleiro está à nossa espera para em 3 dias fazer o que for necessário para repor o Thor em estado novo ou quase. A vida a bordo continua bastante rotineira com excelentes refeições com a cozinheira a fazer valer a fama de no Thor VI se comer bem em especial agora em que temos de acabar com tudo o que seja legumes verdes, produtos para confecionar etc. que as autoridades australianas são muito rigidas na inspecção que fazem à chegada confiscando tudo o que lhes aprover. Há uma lista de produtos proibidos, que nos foi fornecida, mas há também o poder descricionário do funcionário que facilita ou complica tudo. Até foi instituido um "fun prize" - uma garrafa de chardonay australiano - para o barco que não tiver nada confiscado. Devemos chegar à Marina de Mackay na 6ª Feira durante a manhã - na hora local, mais 9 horas que em Lisboa - se tudo correr conforme previsto. Até lá beijinhos e abraços do Thor VI no Mar de Coral. Um abraço muito especial para os meus companheiros do cruzeiro de Verão da ANC que a caminho do Mar de Alboran. Que os bons ventos vos acompanhem. Mandem-me notícias da marina de Saidia que espero já esteja acabada e onde o Thor VI foi o primeiro barco português a entrar. Cuidem-se.

domingo, 18 de julho de 2010

Daily Log - Port Vila/Mackay 01

78 horas de viagem e cerca de 450 milhas percorridas. Depois de 2 primeiros dias calmos e serenos o vento aumentou e a animação instalou-se, um bocadinho radical mesmo. Está um mar grosso com vento nos 25 nós e que nos dá velocidades acima dos 7 nós, bem agitados mas está tudo a correr bem. Até a Patroa para quem esta tirada é a primeira acima das 1000 milhas - é obra - está na maior. As previsões são de alguma acalmia a partir da noite de hoje com o vento a ficar pelos 20 nós. Thor VI do mar da Tasmania over and out

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Daily Log - Port Vila/Mackay

Deixamos Port Vila a 15Jul pelas 12:00 e estamos a caminho de Mackay na Austrália com pouco vento e bom mar. As previsões apontam um aumento do vento a partir de hoje e para os próximos dias e se assim for planeamos chegar na próxima 6ª feira 23Jul. Cuidem-se.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Uma espécie de diário da Patroa - 15

VANUATU – 11 e 12.07.2010
Estes dias passaram-se com limpezas, lavagem do barco, revisões de motor, lavandaria e alguns passeios pela cidade que cada vez nos espanta mais pelos contrastes. Tem uma certa atmosfera francesa e aqui há de tudo, embora bastante caro, com excepção dos produtos vendidos no mercado aberto. Em Vanuatu o trânsito circula pela direita, apesar da presença inglesa....No início da administração conjunta francesa e inglesa, cada país queria impor aqui as suas leis, assim, os carros ingleses circulavam pela esquerda e seriam multados se o fizessem pela outra via, e o mesmo se passava com os franceses quanto à circulação pela direita. Depois de alguns acidentes, e não tendo conseguido entender-se, resolveram que fosse a sorte a decidir: assim o 1º carro a desembarcar em Port Vila determinaria o sentido do trânsito. Acontece que foi um Bugatti para um padre francês – o carro está em exposição no museu –, razão pela qual ainda hoje se circula pela direita em Vanuatu. Uma outra curiosidade, é ser este o país de origem do Budee-Jumping, praticado por uma tribo local em árvores sobre um precipício quando os seus ramos tinham o comprimento e a flexibilidade adequada para o salto. Vejam lá onde viemos parar!! Em Port Vila há bons restaurantes, até agora fomos ao Flaming Bull Steakhouse e ao Chill onde comi ‘poulet fish’ (é o nome de um peixe) e os preços são na ordem dos €30 por pessoa bebendo a cerveja local, marca Tusker. Na outra noite fomos convidados, toda a frota WARC, para um jantar em casa do Commodore do Yacht Club, ou melhor, cada barco levaria um prato e bebidas e juntar-nos-íamos todos em casa do Commodore. A casa é mesmo em cima da baía, tem um ancoradouro privativo – fomos para lá de dinghy – e um grande jardim à volta. O Commodore é muito jovem, está cá com a mulher há 2 anos – ele é australiano e ela americana - e têm um filho de 13 meses muito branco e loirinho, como seria de esperar, que corria feliz pelo jardim e brincava na terra sem que ninguém se importasse. Chegaram de barco, gostaram do país e não pensam daqui sair. O jantar foi muito informal, mas muito agradável.

VANUATU – 13.07.2010
O programa social deste dia incluía um jantar no Restaurante e Bar Waterfront – situado mesmo em cima do cais onde estão amarrados os barcos – onde seria feita a distribuição de prémios relativa à etapa Musket CoveVanuatu. O turismo local apoiou o evento e é de registar com tudo isto funciona bem em VanuatuTivemos um grupo Kastom com as suas danças e cantares e uma excelente banda a abrilhantar o jantar, tendo tudo terminado num grande bailarico. Na distribuição de prémios também fomos receber um: o da situação mais divertida da etapa que foi termos de voltar para trás por nos termos esquecido do dinghy em Musket Cove. Ofereceram-nos um baralho de cartas, para na próxima, nos entretermos enquanto esperamos que nos venham trazer o dinghy. Esta tem sido uma situação de grande brincadeira entre toda a frota, mas o Rui tem, nestas ocasiões, um grande desportivismo e também brinca com a história!

domingo, 11 de julho de 2010

Daily Log – Tana 01

A estadia em Tana foi um nunca mais acabar de “coisas” surpreendentes e que no conjunto se reflectem numa experiência unica. A Sra. Armadora conta com bastante detalhe esta estadia e pela minha parte fica a sensação “estranha” de 8 (oito!) meses depois ter voltado a vestir calças (!!). Enfim pequenas curiosidades nesta experiência unica que é andar à vela à volta do mundo. Na Sexta Feira 09Jul saímos no início da manhã com rumo a Port Villa. Esperavam-nos cerca de 130 milhas sem vento e mar calmo. Assim foi durante todo o dia tendo o vento refrescado – e a temperatura também – durante a noite. Mantivemos sempre um andamento bastante comedido pois queriamos entrar em Port Villa já com a luz do dia, o que aconteceu. Atracámos de ré num pontão, temos água, luz, telemóvel e net, esta de muito má qualidade apesar de ser a pagar. As primeiras impressões são surpreendentes – há bastante tempo que não via um prédio de apartamentos com cinco andares – particularmente para quem vem de uma ilha que não tem literalmente nada. Que mundo tão estranho este!! De Port Villa beijinhos e abraços. Cuidem-se.

Uma espécie de diário da Patroa - 14

VANUATU – 07.07.2010
Claro que de manhã fomos fazer o reconhecimento por onde tínhamos andado no dia anterior à noite. O carreiro aberto na floresta levava-nos a uma grande clareira onde se situava a aldeia, e o restaurante era apenas uma das casas da aldeia – no dia anterior apenas existia uma ténue luz no restaurante pelo que parecia ser a única construção existente. As casas rodeavam o terreiro, não eram mais de uma dúzia, e as mulheres e crianças pequenas estavam sentadas do lado de fora, em grupos, a trabalhar. Vimos também uma escola e muitos miúdos a brincarem no recreio. E uma casa pequena, chamada Mercado Comunal, onde se vendiam algumas bananas, cocos e algum artesanato, nomeadamente cestos, e, no tal carreiro, uma banca de madeira debaixo duma árvore onde estava pregado um letreiro, “Road Market”, com 3 cachos de bananas e alguns limões. E ainda vimos uma igreja que, tal como as casas, era construída de folhas de palmeira, nas paredes e cobertura, tendo as casa uma espécie de janela feita com as mesmas folhas de palmeira, mas com um entrelaçado mais largo. Tudo isto tem um ar muito primitivo, mas parece ser conservado com muito amor pelas gentes locais. As pessoas são muito afáveis e têm um riso largo e aberto quando com elas falamos. Já no regresso ao dinghy para ir preparar o tal almoço de dourado, houve 3 miúdos, de 11 anos, que nos pediram para ir ver o nosso barco. Quando lhes dissémos que eramos de Portugal, associaram-nos de imediato ao Cristiano Ronaldo e reconheceram a bandeira de Portugal. É espantoso como nesta terra do fim do mundo, com uma vida tão primitiva, sem electricidade, o futebol abre mundos – uma das palhotas tem satélite e uma televisão e, nesta altura do Mundial de Futebol, até cobra dinheiro aos vizinhos para os deixar ver os jogos. Espertos os miúdos, até diziam que eram apoiantes de Portugal no Mundial. Ao chegarem ao barco espreitaram tudo com muita atenção, mas o que mais os tocou foram as casas-de-banho e o espelho grande que existe na nossa cabine onde se miraram e soltaram algumas gargalhadas. Cada um deles dizia ter 7 ou 8 irmãos. Dei-lhes umas bolachas e retornaram ao seu mundo. Qual será o seu futuro? Pareceram-me demasiado curiosos para ficarem por aqui! À tarde houve um tour a uma aldeia Kustom e ao Monte Yasur. O transporte era feito em carrinhas de caixa aberta onde nos sentávamos, por um caminho de terra batida, aberto na floresta, mas que as chuvas de umas semanas atrás tinham cavado grandes fendas tornando a viagem uma verdadeira aventura. Na aldeia Kastom, onde as cerimónias tradicionais são parte da vida da aldeia, presentearam-nos com um espectáculo de dança desempenhado por homens e crianças usando os trajes tradicionais de todos os dias, namba (um ramo de folhas que apenas cobre o pénis). Depois do espectáculo, uma espécie de dança guerreira, tinham artesanato para vender, sobretudo figuras feitas em madeira mas alertaram-nos que as autoridades Australianas não gostam muito destas coisas. Seguiu-se, já ao anoitecer, a subida ao Monte Yasur para observarmos o vulcão que os panfletos locais dizem ser o vulcão vivo mais acessível do mundo. E o espectáculo era, na verdade, impressionante: tanto o roncar vindo das profundezas, como os fumos negros e a lava vermelha expelidos. Mais um espectáculo daqueles que não se esquecem na vida!

VANUATU – 08.07.2010
Este foi um dia muito especial! Ao meio-dia, cerimónia da troca de presentes entre as gentes da aldeia de Port Resolution e a frota de barcos do WARC. A combinação era que nos concentraríamos na praia dos dinghys e só poderíamos subir para a aldeia depois de ouvir o sinal dado pelo chefe da aldeia a dizer que estavam prontos para nos receber. Após ouvirmos o sinal subimos à aldeia e estava aí concentrada toda a população, eram mais de 100 pessoas e muitas crianças, para nos oferecerem um espectáculo de danças e cantares. Em seguida seguimos todos em procissão atrás de um grupo que tocava música até um terreno em frente ao Yacht Club que tinha sido demarcado e enfeitado com troncos de árvores e cocos para a cerimónia da troca de presentes. À entrada, a cada um de nós – eramos mais de 50 - foi oferecido um chapéu de abas feito, pelas mulheres da aldeia, em folhas de coqueiro e depois dispusémo-nos para a cerimónia, de um lado a população da aldeia, do outro as gentes do WARC. Foi rezada uma oração pelo Chefe da Aldeia, em grande silêncio, e fez um discurso na língua local e em Inglês de agradecimento pela nossa presença; as crianças da escola – eram mais de 40 – ofereceram-nos uma canção, e que bem cantavam!; houve mais discursos, pelo Commodore do Yacht Club e pelo Andrew do WARC; e seguiu-se a troca de presentes formal entre o Chefe da Aldeia e o Andrew, um grande ramo da Kava e só depois as gentes da aldeia colocaram os seus presentes, um a um, num grande monte no centro daquele terreno. Eram uns cabazes oblongos feitos de folhas de coqueiro (o coqueiro por estas paragens tem muitas utilizações!) cheios de fruta, bananas, toranjas, limões, e cestos de palha de todos os feitios tecidos pelas mulheres. Cada um dos skippers colocou também o seu presente numa outra pilha ao lado e ali havia de tudo, desde material escolar, a panelas, roupa, equipamentos (esta gente tem necessidade de tudo, talvez com excepção de comida pois a natureza é pródiga e eles são bastante frugais!). Foi uma cerimónia muito bonita, muito tocante e é espantosa esta capacidade de dar de gente que tem tão pouco. No final fiquei com a sensação que tinha dado pouco e que nos deveriam ter dado mais informação para podermos vir mais bem preparados. Durante toda a tarde a população da aldeia manteve-se muto atarefada pois esteve a preparar a festa que nos ia oferecer à noite, em frente ao Yacht Club. Foi aí montada uma grande mesa de troncos de madeira e, à hora combinada, estava coberta de pratos com a cozinha tradicional local: mandioca, taro, batata doce, banana frita, galinha, peixe, porco selvagem, a maioria deles cozinhados numa espécie de forno que fazem no chão tapado com pedras quentes e também bastante fruta. Os nossos pratos eram uma espécie de conchas feitas de folha de coqueiro e revestidos com folhas de uma outra planta e comia-se à mão. Excepcionalmente naquela noite o gerador foi ligado e havia 3 lâmpadas a iluminar todo o terreno. A comida era muito simples mas muito saborosa. Depois de todos nós nos servirmos, as gentes da aldeia, sobretudo as crianças também comeram e estiveram junto de nós o tempo todo, algumas delas já dormindo pelo chão pois estão habituadas a deitar-se com o pôr-do-sol. Esta foi mais uma cena que nos tocou profundamente: esta capacidade de dar e a alegria e o amor às suas coisas que nos transmitem!

VANUATU – 10.07.2010
Depois de uma viagem, bastante calma, de quase 24 horas chegamos a Port Vila, a capital de Vanuatu, na ilha de Efate. Port Vila fica numa grande baía em forma de ferradura e é considerada uma das cidades mais bonitas do Pacífico Sul. Estamos atracados de popa a um pontão, com água e electricidade e, com um pulo estamos em terra. A 1ª impressão que temos é de uma cidade com muito trânsito, muito movimento, muita actividade comercial, um completo contraste face ao sítio de onde viemos. Vimos um grande mercado aberto que funciona ininterruptamente de 2ª feira de manhã até sábado ao meio-dia onde as gentes das aldeias vizinhas vêm vender as suas frutas, legumes e flores (quase à hora de fechar ainda estava cheio de movimento e do colorido das bancas e dos fatos das mulheres). Visitámos um outro mercado, o Hebrida Market Place, um emaranhado de lojas onde se vende artesanato e roupa colorida e onde cada loja de roupa tem uma máquina de costura para fazer, na hora, o fato à medida do cliente. A rua principal é muito comprida e aí encontramos desde um grande hotel de 5 andares e com Casino, até uma zona de chineses onde se vende de tudo, chamada Chinatown, lojas Duty Free de bebidas, perfumes, jóias e marcas de qualidade, algumas excelentes lojas do tipo Ocidental e muitos restaurantes e bares. Ainda fomos a um Supermercado, Spar, e há muito que não via uma coisa tão bem organizada, tão limpa, com uma tão grande variedade de produtos e de congelados e sobretudo de grande qualidade. Mas uma exploração mais detalhada fica para os próximos dias! Um outro contraste, foi o dia de calor que aqui esteve, dentro do barco estão 33º e ao sol quase não se consegue estar, enquanto em Tanna esteve sempre bem fresquinho. Veremos se é para continuar!

Daily Log – Musket Cove 01

Pois aquilo que parecia uma pequena etapa (cerca de 450 milhas) rapidinha e sem história veio a ser, inesperadamente um troço bem trabalhoso, incómodo em suma e numa palavra “louco”. As coisas não começaram lá muito bem pois na partida posicionamo-nos bem mas quando quisemos arrancar o cabo do enrolador da genoa (novo) não desenrolou completamente e a genoa ficou meio aberta. A área da partida era meio dificil pois era estreita e com recife de coral de um lado e outro, havendo pouco espaço para manobrar e os barcos que vinham atrás tiravam vento aos da frente e isto deu umas boas lutas. Nós com as velas a não reagirem fomos tapados imediatamente pelo Ciao e pelo Crazy horse e atacados pelo Eowyn e durante cerca de 1 hora andamos numa “luta feroz” por meia duzia de metros. Puro prazer! Eis senão quando a Ana me diz “ esquecemo-nos do dingy”!!! Eu nem queria acreditar quando olhei para a ré e o dinghy realmente não estava lá. Como estivemos atracados de popa, tirámos o dinghy, que foi posto no lado oposto do pontão e aí ficou. É verdade que não estava muito visível, que nas ultimas horas antes da partida houve muito que fazer, blábláblá. Enfim parecia estar tudo estragado e só havia que voltar atrás e recuperar o barco. Avisei o “rally control” que ia voltar para trás – e porquê, o que deu uma gozação geral e que ainda hoje é tema de conversa – e eles simpáticamente recolheram o dinghy e foram-mo levar a meio caminho, o que reduziu bastante o tempo perdido e que afinal se traduziu em mais ou menos uma hora. Quando já tinha o dinghy de volta ainda via umas velas no horizonte e a partir daí foi um “sempre a aviar”. Quando saímos do recife o vento tinha subido já para 30/35 nós e o mar estava branco de espuma e isto manteve-se até ao cair da noite tendo melhorado francamente a partir da meia noite. O Thor andava bastante depressa qual cavalo louco e que por vezes tentava tomar o freio nos dentes, a Sra. Armadora portava-se lindamente apesar de pela cara dela não achar muita graça aquela movimentação, mas eu, confesso, estava de maré e quando assim é ... O dia seguinte amanheceu numa calmaria absoluta com um mar absolutamente estanhado nem dava para acreditar e assim e a pedido expresso da cozinheira, a linha foi posta na água para apanhar “um peixe pequeno para o almoço”. Então não é que faltavam poucos minutos para o meio dia (e com cerca de 2 horas de pesca) um mahi-mahi ou seja um dourado com cerca de 7 kilos se suicidou. Meia hora depois já estava no prato nuns belos lombos à la plancha fazendo honras à habilidade da cozinheira. Nem de propósito! Depois de tão lauto almoço apareceram umas nuvens negras no horizonte, o vento começou a refrescar, apareceram uns pingos de chuva e cerca de meia hora depois tinhamos o vento nos 20/25 nós o mar a alterar-se e até à madrugada seguinte foi novamente uma correria desenfreada. Chegámos a Tana no início da manhã seguinte bastante cansados, com o barco em perfeitas condições mas um bocadinho molhado porque com aqueles saltos e com a água que lhe passava por cima, alguma dela entrou na cabine da frente fazendo algum estrago. Fizemos o check-in com as autoridades locais, muitas como é norma e fomos dormir porque toda esta loucura tinha deixado algumas marcas de cansaço. Divirtam-se.

sábado, 10 de julho de 2010

Uma espécie de diário da Patroa - 13

FIJI – 02.07.2010
A frota WARC já aqui está quase toda, 24 barcos, mas alguns vão ficar por aqui. O Dreamcatcher, um Halberg Rassy 48 – um dos barcos de sonho do Rui – com um casal suiço muito simpático, o Charles e a Marie, que por contingências resultantes de avarias contínuas no barco decidiram ficar pela Nova Zelândia e Austrália por 2 anos e depois talvez “apanhar” o próximo WARC de regresso à Europa. O Ronja, um Jeanneau 49DS com uma família norueguesa a bordo, pai mãe, 3 filhos dos 12 aos 16 anos, e agora viajando com mais um sobrinho e com a irmã do skipper, que resolveu dar por fim a sua participação no WARC pois o filho mais velho e a mãe estavam já a arrastar-se com pouca alegria e gozo pela viagem. O Neoluna, um catamaran com o casal francês e 2 filhos que vivem em Singapura e que vão rumar a casa. O Wild Tigris, um Swan 76 de um casal americano que viaja com um skipper e uma assistente para as limpezas e cozinha e que também vai ficar navegando pela Nova Zelândia e Austrália. E o J’Sea também vai desistir por problemas no barco e de saúde do skipper. O Thor cá continua, com tudo a funcionar em pleno. Apenas o guincho eléctrico do ferro precisa ser substituído, está velho e cansado, mas com um bocado de força de braços do Rui lá nos temos governado. Talvez na Austrália possa ser feito um upgrade.....

PACÍFICO SUL – 03.07.2010 a 06.07.2010
A partida para Vanuatu foi dada às 11H com a largada num canal no meio dos corais algo apertado, mas correu tudo bem. Esta é a 10ª perna do Rally e que portanto conta para uma classificação final, nem sei bem qual. Já com cerca de 1 hora de viagem demos conta que nos tínhamos esquecido do dinghy no pontão em Musket Cove. Um balde de água fria! Tivemos que voltar para trás e só já quase perto do lugar de partida uma lancha da Marina nos veio trazer o dinghy, que mais tarde tivémos que fazer subir e prender nos turcos, tarefa feita no meio do Pacífico com alguma ondulação e que foi algo arriscada. O 1º dia de viagem foi muito cansativo, com bastante vento e muito mar e, para recuperarmos o tempo perdido andámos sempre com o pano todo e a muita velocidade, num estilo um tanto agressivo e audaz ou pior, nem sei bem como lhe hei-de chamar. Ao jantar comemos só uma sopa e até esta se entornou tais eram os saltos do barco. O 2º dia já foi mais calmo, o vento abrandou e o mar ficou completamente chão. Ainda deu para pôr a cana de pesca no mar e nem passadas 2 horas, mesmo na altura em que ia fazer o almoço, apanhámos um dourado que deveria pesar uns 7 kg. O peixe é amarelo com pintas pretas e vai mudando de cor para cinzento. Assim, o almoço foi filetes de dourado à la plancha. Ainda que só aproveitemos os lombos tinhamos bastante peixe, pelo que convidámos o Graham e o Mike para em Vanuatu virem jantar a bordo. Pelo começo da tarde voltou a levantar-se o vento, o que deu para o Thor rumar a toda a velocidade – novamente - até à ilha de Tanna em Vanuatu, onde chegámos pelas 10H40 do 3ºdia ( em Vanuatu os relógios atrasam 1 hora face a Fiji e agora só estamos a mais 10H UTC).

VANUATU – 06.07.2010
Vanuatu é um país independente desde 1980, anteriormente chamava-se Novas Hébridas, e a cultura tradicional tem aqui um peso muito importante apesar de ter estado sob o domínio de uma coligação Francesa e Inglesa desde 1906. Assim o povo fala Bislama, Francês, Inglês e ainda um dos muitos idiomas locais. Uma curiosidade é o facto do 1º europeu a aqui chegar ter sido um Português, Pedro Fernandez de Queirós, chefiando uma expedição espanhola. Vanuatu tem mais de 80 ilhas e estamos fundeados na ilha de Tanna, uma das mais tradicionais do país, numa baía junto à aldeia de Port Resolution. Quando chegamos à baía apenas se vê a floresta densa que desce até ao mar mas, de dinghy fomos até uma praia onde estava hasteada a bandeira do WARC e depois de o deixarmos amarrado ao ramo de uma árvore subimos por um trilho escavado na floresta e chegamos a uma espécie de plataforma onde existe um barracão, era o “Tanna Yacht Club”. Aí estavam à nossa espera os Oficiais da Emigração e Alfândega para fazerem o check-in dos barcos que iam chegando. Apenas o Oficial de Quarantine foi a bordo – nesta ilha os controlos parece que são muito rigorosos, pois querem permanecer livres de infestacões perniciosas vindas de fora e poder continuar a não usar pesticidas, insecticidas ou herbicidas como ainda hoje acontece – mas ao fim e ao cabo não foi assim muito rigoroso e apenas nos levou uma tangerina e um coco, que estavam ali à mostra mesmo a pedir para serem levados. Enquanto estávamos em terra fizémos reserva para jantar a um restaurante situado na aldeia, o “Avocado Restaurant and Tanna Coffee” que apenas serve 10 pessoas de cada vez. Na altura disseram que não tinham lagosta, mas que iriam tentar apanhá-las para o jantar. O ponto de encontro foi o Yacht Club às 19H. Estava já noite cerrada e como não há iluminação, fomos guiados por um local até ao “restaurante” por um carreiro aberto na floresta – nunca me esquecerei desta caminhada e do pisar da terra fofa debaixo dos meus pés. O restaurante é uma palhota com um ar muito arranjado e asseado, onde nos esperava uma mesa comprida já posta e uma outra na cabeceira onde estavam dispostos os pratos com comida: uma bela lagosta cozida, frango bem saboroso, arroz e mais uma meia dúzia de pratos com legumes locais para acompanhamento: taro (inhame), mandioca, batata-doce e não sei o nome dos restantes. À sobremesa uma espécie de salada de frutas muito saborosa e depois ainda e para acabar foi servido café de Tanna. A refeição era acompanhada de água e para iluminação tínhamos 3 velas. Afinal éramos só 6 ao jantar, o Graham e o Mike do Eoywin, a Susan e o David do Voyageur, o Rui e eu e pagámos cerca de 6€ pelo jantar e 2,5€ pelo café. A tal guia que nos conduziu ao restaurante também se sentou à mesa e comeu o mesmo que nós. A dona da casa chama-se Sara, fala francês e também um pouco de inglês e explicava o que era cada prato rindo-se sempre muito. Contou-me que tinha 4 filhos e estava à espera do 5º. Havia um cortinado a separar a sala de jantar de um outro quarto e dava a ideia que o resto da família estava aí, pois os filhos pequenos ainda vieram ajudar a mãe. Esta foi uma experiência tocante, daquelas que nunca se esquecem na vida.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Daily Log - Fiji 04

Hoje 03 de Julho, (aqui porque aí ainda é 02Jul.) o importante do dia é o aniversário do meu neto Tiago. Parabéns Tiago. Nós estamos de partida para Vanuatu onde aconteceu um tremor de terra de 6.4 na escala de Ritcher mas sem aviso de tsunami. Portanto não há alterações no nosso programa, esperam-nos 450 milhas com tempo bom nos 2 primeiros dias e alguma chuva no ultimo (devemos levar cerca de 3 dias) e algum vento não muito ao contrário dos últimos dias aqui em Musket Cove. Entretanto a frota sofreu umas perdas o Ronja desistiu o barco vai ser levado por um skipper para a Austrália e daí embarcado num navio para a Europa - uma surpresa pois toda a família parecia estar a levar isto com um entusiasmo fantástico, afinal - o Dreamcatcher vai ficar por aqui talvez retomando o próximo WARC e o Noeluna também termina o rally pois vai para casa, para Singapura. Somos cada vez menos. Cuidem-se. Beijinhos e abraços

Uma espécie de diário da Patroa - 12

FIJI – 30.06.2010
A 1ª coisa que fiz foi telefonar para Lisboa a saber o resultado do Portugal-Espanha. Perdemos e estamos afastados do Mundial de Futebol. Temos pena! Os nossos amigos espanhois do Kalliope deverão estar mais contentes mas não estão cá. Ficaram para trás, numa Marina, à espera de peças para reparar as avarias do barco. Durante o dia mais limpezas e arrumações no Thor e ao fim da tarde Welcome Drinks e um Barbeque oferecidos pelo WARC, numa ilhota mesmo aqui ao pé do pontão dos barcos, é só atravessar uma pequena ponte de madeira. Um bar numa palhota de madeira, mesas e bancos de madeira à volta e à tardinha acendem umas grandes fogueiras para quem quizer ali fazer os seus grelhados. É mais uma forma de promover a confraternização entre as tripulações dos barcos. Claro que foi também mais uma noite de grande conversata com a Isabel e o Bob, os nossos amigos brasileiros.

FIJI – 01.07.2010
Durante os últimos 2 dias tem estado um vento forte, um tanto desagradável, mas a previsão é que abrande a partir de Sábado, dia da partida para Vanuatu. Continuamos em Musket Cove, a dormir em terra num belo quarto – com ar-condicionado que afinal não se tem mostrado necessário, mas com um excelente duche!! – e a passar o dia a fazer limpezas e arrumações no Thor. Vai sair daqui num brinquinho!! Hoje foi dia das tripulações do WARC se divertirem com jogos de praia, mas que como habitualmente são levados a sério e com um espírito muito competitivo. Afinal ninguém gosta de perder! À noite, jantar na areia junto à praia, mas desta vez sentados, sob o tema: Fiji Fiest. Havia porco assado, do tipo do nosso leitão, e danças e cantares de Fiji. Mais uma noite bastante agradável!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Daily Log - Fiji 03

Bula ou seja Viva, aqui nestas línguas. Estamos em Musket Cove onde se juntou toda a frota ou quase porque o Kalliope tem uns problemas e está em Denarau esperando algumas peças e ainda bem porque nos tínhamos prometido umas praxes por causa do futebol e assim livrei-me(!!!) - os espanhóis não brincam com coisas sérias, pois não? E foi bom voltar a encontrar-nos todos e a pôr a "escrita em dia" e bastantes coisas se passaram com alguns "toques" no fundo do Dreamcatcher - mais um problema e parece-me que já não é só azar - e o J´Sea que voltou a juntar-se à frota, ainda que por pouco tempo e que se "deitou" em cima de um recife. Acabou saindo rebocado por uma lancha e "sem danos" nas palavras do skipper. Deus é grande meus amigos. Nós temo-nos oferecido alguma qualidade de vida com umas mordomias extras bem agradáveis - já não dormia numa cama à séria desde 01 Nov 09 - mas também  aproveitando para limpar e rearrumar o Thor que já estava a precisar. Entretanto resolvemos o problema da bomba do gerador que já vem a caminho desde Londres pois na Austrália um "jeitoso" pediu-me uma pequena fortuna pela bomba, apesar da Jonhson ter representante ali. Eles andam aí e se nos descuidamos toma !!!! Vamos sair no Sábado 03Jul para Tana em Vanuato onde devemos chegar a 06/07 Jul. Estamos já na parte final desta longa travessia do Pacífico e a Austrália, que é um marco importante nesta viagem, já quase que se vê ao longe. Divirtam-se. Beijinhos e abraços. Thor VI a caminho da Austrália.